SER, TER E PODER

Estas são as três ambições primordiais do ser humano. Foi em cima delas que Jesus foi tentado no deserto. No entanto, nunca ouvi dizer de alguém que tivesse obtido uma delas ou as três, e conseguisse a felicidade. E por que? Talvez porque, como afirmei no começo, são ambições e, como o horizonte, elas nunca são atingidas, ficando sempre um travo amargo de fracasso e perda.

Qual seria a passagem secreta que nos levaria ao portal do Eden? Uma palavra mágica, ou uma varinha, teria o dom de nos proporcionar a sabedoria de viver? Acho que sim, e é um vocábulo bem pequeno para as dimensões do bem que realiza: PAZ.

Quem tem a paz no coração, traz consigo a esperança, que não permite esmorecimento na dura caminhada da vida. Se hoje as coisas não estão como queremos, amanhã, certamente, conseguiremos atingir o objetivo momentâneo. O sonho, objetivo último do viver, é inatingível, e apenas indica a direção da nossa rota: se a vocação é para as ciências exatas ou para as artes. É sonho, não uma quimera. É um desejo, não meta a ser atingida.

Muitas vezes, vendo documentários na televisão, fico pasma diante da imobilidade de um monge tibetano, horas, dias a fio, de olhos fechados, ou contemplando o além; as pernas, geralmente finas, cruzadas diante do corpo esquelético, ao sol e à chuva, esperando... O que? Nada. Não aguardam nenhum acontecimento. Estão vivendo a filosofia deles, estão usufruindo a paz de espírito do seu interior. Este sentimento de serenidade não permite um passado, e não conta com o futuro que ainda não chegou. O presente deles não é feito de planejamento ou remorso, mas simplesmente de sentir a vida fluindo nas veias, o coração palpitando no peito, e os músculos do pulmão se esticando e contraindo, de acordo com a respiração.

É patética esta cena, para o cidadão do mundo dos negócios, da bolsa de valores. Estes não param. Correm e esbravejam, num esgotamento frenético, em busca de ser alguém, ter mais dinheiro, e poder controlar as coisas e pessoas. No entanto, os monges tibetanos, que nada ambicionam, descobriam a sabedoria de viver, e viver em paz.

Petrópolis, 6 de novembro de 2009

Gilda Porto
Enviado por Gilda Porto em 06/11/2009
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