Curtindo o frio
Eu gosto de curtir o frio. De verdade. Li em algum texto que pessoas que dizem curtir o frio gostam mesmo é de curtir o calor: da lareira, do chocolate quente, do fondue... Gosto dessas coisas, mas no meu caso quando digo frio é frio mesmo. Sentir o ar gelado congelando meu joelho. Ter que colocar a língua entre os dentes pra eles não se baterem, e ter que tomar cuidado pra nessa não acabar mordendo a língua. Encolher-me com um vento gélido e súbito entrando por debaixo da blusa. Fazer malabarismo pra abrir as portas sem as mãos (tirar as mãos dos bolsos? Tá doido?).
Hein? Não, não sou masoquista. Não gosto do frio por causa do sofrimento. Pelo contrário: o frio me ajuda a amenizar o sofrimento. Não acredita? Está bem.
Quando me bate angústia, ansiedade, preocupação, ou mesmo uma animação crescente, inquietude... Eu fico fora dos eixos. Meu organismo começa a não responder como devia. Fico ouriçada, atenta a tudo e ao mesmo tempo não presto atenção em nada, meu coração parece explodir, minha respiração muda. E a sensação de inquietação vai aumentando, é o "rato tomando proporções de hipopótamo".
Quando eu saio no ar frio, é como "levar uma ducha gelada". Um baque na minha inquietação. Meus pensamentos param e se reorganizam, meus sentidos viram instintivos. Como se meu organismo decidisse esquecer tudo e se preocupar em sobreviver.
Nesse momento, eu desacelero meu passo, curtindo o frio e a sensação de alívio que me traz. O vento frio leva embora minhas preocupações, e me relembra da pequenez: minha e de meus problemas, que eu sou uma criatura humana levando a vida a sério demais.
Quem sabe?
Ou talvez seja apenas tanto frio afetando meu cérebro.
Só espero que a temporada de chuvas não recomece...