Imagem: A Criação de Adão - Michelângelo
Música: Concerto para uma só voz.-  Bach


Homem animal x Homem civilizado
 
 
Há poucos dias atrás eu caminhava em um bairro residencial de minha cidade e vi uma senhora no portão de sua casa desesperada e esbravejando: “seu canalha, você é um animal, um selvagem”! Não vi a pessoa que recebia os xingamentos e nem mesmo reconheci os motivos para tal.

Sem dúvida nenhuma, a senhora que esbravejava estava um tanto quanto equivocada. Com exceção da palavra “canalha” as outras eram elogiosas. Chamar uma pessoa de animal ou de selvagem, a meu ver, é um grande elogio. Os animais, ditos selvagens, não fazem nada de maneira premeditada, apenas, obedecem aos ditames do instinto da sua espécie.

O humano é um ser dual e carrega dentro de si o seu lado “animal” e o lado “civilizado”. O seu lado animal – instintivo - encarrega-se da sobrevivência e da perpetuação de espécie. Não é o lado malicioso e maldoso do ser humano.

Uma criança, ao nascer, apresenta apenas instintos elementares. Aliás, os instintos na espécie humana, ao nascer, são extremamente rudimentares em comparação com os outros animais. Por isso, nascemos bons e puros e perdemos a bondade e a pureza à medida que ganhamos consciência.

A consciência é o que faz o humano civilizado. Observar, pensar e decidir são três faculdades importantes da consciência humana. Essa sequência nós observamos nas crianças, elas são exímias observadoras e decidem muito pouco, ou melhor, os adultos decidem por elas. Com o ganhar da maturidade o humano decide mais e observa menos.

Existem duas consciências: a individual e a coletiva. A coletiva é a soma de todas as consciências individuais. O ser humano acredita que a consciência coletiva é a responsável por todas as mazelas do mundo. E no intuito de obter melhoras, tenta mudar a consciência coletiva, o que é um grande erro. O caminho correto é primeiro mudar a consciência individual para depois se conseguir mudanças na consciência coletiva.

O humano tem consciência, observa, pensa e decide. Com esses instrumentos ele constrói, destrói, muda as pessoas e o mundo. Opera maravilhas e malvadezas. Cria belas obras de arte e materiais belicosos. Esses instrumentos conferem ao humano a dualidade própria da espécie. A parte civilizada tenta sobrepujar, anular e destruir a sua parte animal que é pura e boa.

Em 1755 o grande intelectual Suíço Jean-Jaques Rousseau assim escreveu “O Homem é bom por natureza. É a sociedade que o corrompe”. Passado mais de 250 anos eu afirmaria que o homem nasce bom por natureza. O que o corrompe é sua própria consciência.

Roberto Pelegrino
Enviado por Roberto Pelegrino em 06/11/2009
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