Cecília Meireles e o haicai
Pretendo ser breve, mas sem deixar lacunas no texto. Nossos maiores expoentes no haicai, a sutil e inteligente arte poética japonesa que ganhou o mundo deve ser apreciada com olhos e corações abertos.
Sem qualquer julgamento de quem entende ou não o haicai, diria que Paulo Leminski, Guilherme de Almeida e Cecília Meireles compreenderam muito bem o seu significado.
Vou fixar-me em Cecília. No seu antológico Escolha o seu sonho, ela aborda o assunto com profundidade e delicadeza, qualidades que a caracterizam.
No seu texto “O ‘divino’ Bachô” nossa autora mostra a sua inteira compreensão do haicai.
Afirma textualmente que o haicai, nas mãos de mestres, torna-se uma preciosidade: “É um engano tomá-lo apenas pelo aspecto superficial: precisa-se penetrar na intimidade da sua significação.”
Sabedora que o haicai e o tanca expressam a mais autêntica forma da expressão poética, que não necessita de título, pontuação ou rima, embora esta quando devidamente feita enriqueça o poema, Cecília dá um exemplo de Bashô, considerado o mestre do haicai.
Um discípulo seu teria escrito
“Uma libélula rubra.
Tirai-lhe as asas:
uma pimenta.”
Mestre Bashô corrigiu o haicai.
“Uma pimenta.
Colocai-lhe asas:
uma libélula rubra.”
Uma diferença grande! Cecília entende como um símbolo de compaixão, como “uma luz que não se apaga, e até se vê melhor – porque vastas e assustadoras são as trevas dos nossos dias.”