O despertar da vaidade

O primeiro batom a gente nunca esquece. A propaganda dizia: "o primeiro sutiã a gente nunca esquece". Nota dez para a frase, dez para a propaganda e dez pra marca de lingerie, que vendeu horrores. Eu lembro bem do meu primeiro sutiã, na verdade recordo-me dele já velhinho, bem usado. Afinal demorou um pouco até que eu ganhasse outra lingerie, acho que minha mãe acabara esquecendo minha condição de mocinha.

Quero recordar, porém, nesse momento, a primeira vez que pintei os lábios de batom. Aliás, não pintei apenas os lábios. Minha estréia no mundo encantado da maquiagem foi completa, de rosto inteiro.

Fiquei encantada com a imagem que vi no espelho. O espelho, inclusive, passou a ser um fiel companheiro. Desde aquele momento percebi a importância desse objeto na vida de uma mulher. Ele me mostrava, descobria-me...

O batom era vermelho, mas também tinha blush rosa e sombra azul-claro. Na minha pele morena tudo se encaixava. Acredite, eu estava linda, o espelho gritava e eu apenas reproduzia – linda!!!

Talvez, minha mãe lembre, melhor do que eu, a reação que tive e as palavras que balbuciei. Recordo-me bem que para alcançar o novo amigo espelho, tive que subir na cômoda do quarto de minha mãe, com ajuda dela, claro. Estava bela demais pra correr riscos.

A ocasião era uma festa junina da escolinha onde cursava o primário. Além da maquiagem, havia o vestido estampado com ponta de renda branca e o chapéu de palha enfeitado com uma bela fita.

O vestido, a festa, a quadrilha, nada me fez mais alegre que a maquiagem naquele dia. Definitivamente, foi o despertar da minha vaidade, antes até do sutiã, mas como este, também custou até virem outros batons e outra face maquiada. Mas não lamento o hiato entre o despertar da vaidade infantil e as descobertas da puberdade. Tudo no seu tempo e no seu lugar. Hoje, adulta, percebo que aquela imagem encantada da infância no espelho me faz cada vez mais mulher...é, pra mim, foi o primeiro batom que nunca esqueci!