O Alvo.
Ele já tinha perdido a conta do quanto já tinha andado. E respirava cada vez com mais dificuldade a cada passo que dava, como se o caminho plano da rua de pedras que percorria tivesse se tornado a mais íngreme montanha. Olhava para trás com freqüência, esperando sempre ver alguém o perseguindo, e cada barulho, cada menção de presença alheia, fazia seu coração parar por instantes.
Não que o pacote que ele carregava fosse pesado. Não, longe disso. Mas o fardo de estar carregando-o era. Sentia que, se não fosse rápido, todo seu esforço seria perdido. E ele não podia se dar ao luxo de estragar tudo.
A escuridão da noite lhe abraçava e as estrelas lhe faziam companhia, enquanto olhava para todos os lados para ver se havia alguém à espreita. Seu destino não estava muito longe agora, mas seu cansaço o vencia de forma injusta. A rua de pedras irregulares tirava seus passos de sincronia, e a cada curva, o seu pacote, o seu fardo, se tornava mais difícil de carregar.
Sua respiração arfante cortava o silêncio, mas seus ouvidos estavam aguçados. Sua visão, impecável. Tanto que pôde ver exatamente quando O Alvo saiu pelo portão de um prédio residencial. Sem pensar em mais nada, correu para o beco na esquina contrária e ali se escondeu, observando enquanto O Alvo continuava pelo caminho que ele deveria estar percorrendo. Não, não era verdade. Ele não poderia chegar antes.
Reunindo as últimas forças que lhe restavam, ele correu por entre as lixeiras e montes de lixo do beco que, se é que era possível, estava ainda mais escuro que aquela noite sem luar. Correu, sempre tomando cuidado com o pacote que cismava em lhe lembrar o quanto era importante que ele não fracassasse.
Chegou então até um muro de grade em que pode constatar que estava perto, e ao pular para o outro lado, pôde avistar a casa. Seu destino. Havia chegado. Olhou para a rua e viu O Alvo caminhar rapidamente em direção à mesma casa. Abraçando o pacote junto ao corpo, ele correu agachado até a porta de trás e entrou derrapando sala à dentro.
A casa estava escura, mas todos já estavam esperando por ele. Colocou o pacote em cima da mesa e se escorou para poder respirar. Suava muito. Engoliu em seco, levantou a cabeça e olhou para todos à sua volta.
-Ele está vindo. – disse, com a voz falhada.
Naquele momento, todos tomaram as suas posições e o clima se tornou tenso. Seu pacote, que ele tanto protegeu para chegar intacto, já havia sido aberto e, seu conteúdo, inspecionado e aprovado.
Ele fechou os olhos e respirou fundo. Tinha conseguido. Sorriu maliciosamente e olhou para a porta da sala, no momento em que o barulho da fechadura acusava que alguma chave iria destrancá-la. Todos se prepararam. A porta fez um clique. Ela estava aberta. Ele respirou fundo. Era agora ou nunca. A porta foi se abrindo e, logo em seguida, O Alvo se surpreendeu quando a luz acendeu e todos apareceram. Foi em uníssono.
-Parabéns pra você, nesta data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida! Parabéns pra você, nesta data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida! É big, é big, é hora, é hora, é hora, rá, tim, bum!
O Alvo sorriu, cumprimentou a todos, seus amigos, seus familiares e, finalmente, seu olhar encontrou o da pessoa que, sem sombra de dúvidas, era a que mais suava.
-Obrigado, cara. Obrigado mesmo – disse O Alvo, para o seu irmão.
-De nada. Você merece. Espero que goste do bolo. – ele respondeu, sorrindo.
Por fim, eles se abraçaram. E a festa começou.