VIVEIROS, O PREDADOR

A turma conversava numa bela manhã de sábado, na calçada do "Bar do Espirro", na Cachoeirinha, falando de comes-e-bebes e lá veio ele com a sua ginga marota, num caminhar diferenciado, zigue-zagueando, enganoso, o “Viveiros”, crioulo bom de serviço, o tal sujeito.

“- Cês tão falando de carne de caça, né mesmo? Disso eu entendo!” E disgramou a falar dos seus experimentos culinários:- paca, tatu (cotia sim), veado campeiro, capivara, coelho do mato, o homem era um predador nato (atenção, fiscais do IBAMA)! Bicho grande ou pequeno, coisa miúda, nada escapava ao apetite voraz do simpático negão.

“- Ticreca, cê me empresta aquele seu alçapão grande? Tem umas rolinhas caldo-de-feijão freqüentando o fundo do quintal lá de casa e eu tou a fim dum guisado com batata e pimenta ...” . Era desse jeito.

Aí meti minha colher de pau na conversa e contei das minhas andanças pelo norte, nordeste, centro-oeste e extremo sul deste Brasilzão, falando dos quitutes que experimentei em Belém do Pará, no caís do “Ver-O-Peso” (pato ao tucupi, maniçoba, tacacá, casquinho de mussuã), no Recife, Pernambuco (sarapatel, chambaril, buchada de bode, guaiamum), em Olinda (tapioca), no Caruaru (peito de pombo com farofa), no Mercado Modelo de Salvador, Bahia (mão de vaca, xinxim de galinha, lambreta), nos restaurantes das famosas peixadas da orla marítima de Fortaleza, no velho e bom Ceará, em São Paulo (Sampa), a capital gastronômica do país, em Curitiba, no Paraná e no Porto Alegre da valente gauchada, terra de vinho e de bom churrasco.

“- Uma vez saí do Recife pra comer rã grelhada em Vitória de Santo Antão, num boteco ao lado da fábrica da Pitu. Coisa de louco, só vocês vendo, ou melhor, comendo.”

A mineirada torceu o nariz, alguém enjoou, teve ânsias de vômito. O “Viveiros” entrou em cena e me deu força, prestou seu depoimento de caçador de jia nos brejos existentes pros lados de Santa Luzia e Macaúbas.

Aí o Marcinho, o Ticreca, o Teiú (gostoso também, na panela), o Babalú, Toninho Dengoso, Felipão, Sete Lagoas, Deo, Josino, Paulinho Cearense, Guido, Bananal, Chico Maritaca e outros viciados numa cerva gelada e num bom tira gosto, explodiram:-

“- Pôxa vida, cês não perdoam nem parente de sapo! Vai ter fome assim no inferno!...”

-o-o-o-o-o-

B.Hte, 29/11/03

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 03/11/2009
Reeditado em 09/11/2013
Código do texto: T1902230
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