SOBRE PALAVRAS E MÁ FÉ...

 
            Não somos responsáveis pelo entendimento do outro, nem pela interpretação que cada um dá aquilo que ler\ouve, mas temos responsabilidade sobre o que escrevemos\dizemos. Grande parte dos desentendimentos nas relações está relacionada ao fato de atribuírem ao que dizemos\escrevemos um sentido que não imaginávamos existir ao emitirmos nossas palavras, sejam ditas ou escritas.

            Muitas vezes tenho me perguntado: a maldade está na palavra dita ou na mente de quem a escuta? Por que ocorre a inversão? Por que, antes de criar o problema não procuramos esclarecer o mal-entendido? Por que semeamos ofensas sem ouvir a outra versão dos fatos? Por que tendemos a acreditar mais na mentira que na verdade? 

           Sei (ou penso saber) que a palavra é como a droga, mata e salva. Liberta e aprisiona. Nenhuma palavra pode ser doce numa mente permeada de fel, qualquer tentativa de diálogo soará como provocação a quem só sabe proferir acusações. Não podemos esquecer que o contexto também contribui para análise do discurso. Qualquer palavra, caída em terreno regado pela maldade, pela desconfiança pode ser envenenada e se transformar em arma letal. 

            Qual a lógica de acreditar sempre no pior, de imaginar uma coisa e espalhar como verdade, de criar uma suspeita a partir do nada ou de mal-entendido e contá-la como verdade? O que nos impede de entender que ninguém pode ser condenado até que seja ouvido e esclareça os ‘ruídos’ da comunicação? Por que não evitamos a contaminação pelo veneno da descrença? Por que, ao invés de nos deixarmos contagiar pelo vírus da desconfiança não tomamos o antídoto da boa vontade? 

            Nunca entenderei as mentes que abrigam a maldade. Que preferem a fofoca à verdade. Que optam pelo disse-me-disse e desprezam a argumentação fundamentada em fatos e verdade. Sempre respeitei todos os credos, crenças e escolhas; tolerei a pequenez daqueles a quem a vida não ensinou a ser a grande, mas não ainda não consigo evitar a dor que sinto ao ser injustiçada, acusada do que não fiz ou disse.

            Diante de atitudes assim sempre me pergunto: se pensam isso de mim, se me acham capaz de tal atitude, não serei responsável por isso? Será que, em algum momento, não forneci armas para isso? Não tenho respostas, apenas que sei que, jamais agi pensando fazer o mal ou magoar ninguém. Sempre reconheço meus erros e desculpo-me por eles, mas não suporto ser acusada do que nunca pensei em fazer ou dizer.     
    

            Não sou santa, nem tenho vocação para mártir e sei ferir quem me fere, mas só faço isso em jogo aberto, face-a-face, não sei agir à surdina, no anonimato, dizer a B o que sinto de A. Sou direta. Quando sou atingida vou lá e procuro saber as causas, se for o caso, revido, ou desculpo, mas em ambos os casos saio machucada. 

            Continuo sonhando com um mundo onde as palavras serão sempre pontes, elos e nunca espadas, muros, prisões. Nunca é demais lembrar o que nos disse o Mestre: “Prestai atenção a como escutais.” (Lucas 8;18).

             Há quem diga que somos como espelhos, só vemos no outro aquilo que há nós. Será?



                              




Ângela M Rodrigues O P Gurgel
Enviado por Ângela M Rodrigues O P Gurgel em 01/11/2009
Reeditado em 01/11/2009
Código do texto: T1899297
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