A ODISSÉIA DO TRANSPORTE URBANO
ODISSÉIA DO TRANPORTE URBANO
Quando entro em um ônibus urbano, desses que nos levam de um bairro ao outro ou do centro da cidade para algum lugar ou mesmo quando fico em pé, no ponto de ônibus , durante mais de 15 ou 20 minutos ou quando não consigo equilibrar-me dentro do ônibus , ou, ainda quando quase me esborracho lá na frente do ônibus , com as freadas bruscas dos motoristas desses coletivos , várias lembranças e pensamentos vêm à minha cabeça e , como um roteiro de um filme , eu começo a imaginar na brutalidade do “capitalismo”’ desenfreado que busca o lucro pelo lucro , sem priorizar a contra-partida de um bom serviço.
Passar por uma roleta do ônibus é algo tão humilhante , quanto desconfortável : as roletas são altas , por vezes as nossas bolsas agarram nelas e os trocadores ou trocadoras limitam-se a olhar com a impaciência comum dos infelizes , até porque , os pobres coitados desses trocadores e trocadoras devem sofrer , cedo, cedo , de problemas na coluna , principalmente quando a roleta está localizada na parte traseira do ônibus .
Quando tem alguma outra bolsa na mão e a roleta fica logo no final do degrau , como acontece em minha cidade , ai , então , é o maior perigo , porque a possibilidade de cair é muito grande.
E para tirar o dinheiro ou o vale transporte da carteira para pagar? Mesmo que esteja com o dinheiro na mão , até para pegar o troco é difícil.
E quando você demora para pegar o dinheiro na bolsa e o trocador pensa que você vai dar o golpe de “andar de ônibus sem pagar , ou então, quando o tal cartão eletrônico não “ passa” . É muito constrangedor , já vi várias cenas destas .
Nessas horas , o meu pensamento voa , mas não voa tanto quanto certos ônibus , mas voa para dentro das consciências desses “ caras “ que inventaram um jeito bastante desconfortável de andarmos de um lado para o outro , atentando sempre para que o seu lucro seja seguro. Por exemplo, a roleta alta em cima e baixa em baixo é para evitar que mães passem com seus filhos por baixo ou por cima das roletas ou para evitar que pessoas mais magras , baixinhas ou com muita mobilidade corporal “ tipo ninja “ pulem ou passem por baixo destas benditas arrecadadoras de dinheiro . E que se dane o conforto de quem precisa deste tipo de transporte.Afinal , o principal é garantir a mínima evasão.
Alto lá ! Defesas à parte , mas será que o projetistas dos ônibus ou o dono da companhia , ou o político que aprovou o edital de licitação ,, ou seja lá quem for que tem interesse nesse ramo , ou mesmo , a sua mãe , o seu pai , o seu cônjuge , filhos , será que já tentaram andar de ônibus e passar por estas roletas ?
E quando você espera “ em pé “ por mais de 20 minutos e o ônibus passa longe e não para no ponto? E quando o ônibus que tem que passar às 14:00hs. E passa às 13:50hs e o próximo será apenas às 15:00hs?
Reclamar para quem ? – Não ouvi bem ... Ah... sim ... para as agências reguladoras de transportes coletivos ... Com certeza , nunca andaram de ônibus e emitirão imensos pareceres sobre as razões da roleta ser tão desconfortável .
Afinal , tudo precisa ser desconfortável , demorado , sujo e mais ou menos eficiente, mais para o menos do que para o mais , porque , senão, não tem como atender à demanda.É ou não é?
E os pontos de ônibus ? Não tem lugar para sentar , nem para abrigar-se da chuva, nem do sol . Outro dia , um vereador da minha cidade , dizia : “ são os trabalhadores , mães com crianças , pessoas que contribuem com o seu trabalho ... “ que utilizam os ônibus . Ou seja : vereador não pega ônibus , então , ficam na retórica . Uma coisa tão simples e discutem por mais de 20 sessões e lá vai o povo , em pé , na chuva, no sol, amontoados , esperando o ônibus , em pé , e dá em passar em roleta , se segurar em pé , se espremer e lá atrás , alguém grita :” cuidado, motorista , que a carga é viva.”
E assim vão se enriquecendo os donos dos ônibus , que entopem avenidas , engarrafam o trânsito e atendem mal a população , mas , enquanto este capitalismo se mantiver entre as aspas da corrupção , do interesse particular sobre o coletivo, da falta de amor ao próximo, da importância do ter a qualquer preço , teremos que ficar ainda muito felizes pelas tais roletas não serem russas .
Mas , como esperança é sempre viva , tal qual a carga dos ônibus , vamos torcer para que os próximos projetistas , políticos e donos das empresas já tenham passado pela roleta destes ônibus !