HISTÓRIAS REAIS DO MEU FUTEBOL
HISTÓRIAS REAIS DO MEU FUTEBOL
(Theo Padilha)
Hélio Ribeiro – O Poder da Mensagem dizia nos seus programas: “Nós só ficamos velhos quando passamos a sentir saudades no lugar de sonhos.”
E o futebol marcou nossa infância. Então acho que estou ficando velho. Pois tenho saudades dos tempos quando nós treinávamos o dia todo. Uma humilde pensão do pai dava-me um privilégio de não ter de trabalhar. E então depois das aulas no Ginásio Estadual Professor Francisco Benedetti, o negócio era só trabalhar a pelota. Por coincidência ainda, morávamos perto do campinho da estação. Havia o bar do cinema. Cine Caiçara. Bar do Zé Vaz. E Tião, o seu filho, sempre formando times. Ele até que jogava bem. Mas como era muito fechado e tímido preferia fazer seus timinhos do que jogar no Tavorense, onde existia “muita gente metida” como ele achava. Às vezes, “quando convocado” ele ia ajudar o Tigre da Região, como era chamado o rubro-negro tavorense. Mas logo o Tiãozão se cansava de ser culpado de gols, falhar na zaga, onde ele jogava, até razoavelmente. O CERT (Clube Esportivo e Recreativo Tavorense) era uma espécie de Seleção Brasileira. E o Tião já voltava a cuidar de seus craques. Sempre havia uma bola no bar. E nós treinávamos mesmo debaixo de chuva. Imitávamos os nossos ídolos e ali no campinho descaído da estação, fazíamos nossas jogadas. Eu, o Neco, o Ditinho, o Tiãozão, o Jonas, o Polaquinho (que carregava cartaz do Cine Caiçara) e muitos outros. A bola era adquirida por uma malandragem do Tião. Ele marcava um cruzeiro na conta de cada cliente de seu bar e comprava a bola.
Certa vez, jogando contra um time do Joá, eu que era meia-esquerda, camisa 10, tentei dar uma caneta num velhinho, no meio de campo, mas fui infeliz, e o velhinho banguela, deu o troco dizendo: “pelo vão da perna é assim mocinho!” Aquilo foi um vexame. E recebi uma vaia tremenda da torcida que ficava quase dentro do campo. Disseram que o velhinho tinha sido profissional. Era o tempo do aspirante do Flamenguinho.
Certa vez, já no São Paulo do Dalmo, eu voltei lá da linha para ajudar a defesa e fiz um pênalti. O jogo era contra o time do Africano. O nosso goleiro Afonso, que depois foi profissional em Ibaiti, pegou o pênalti. Eu, muito alegre, corri e abracei o goleiro colocando a mão na bola. O Juiz, ingrato, deu pênalti de novo. Foi a tônica para o nervosismo do Dalmo. Ele mordeu a língua e meteu um ponta-pé na minha bunda!
O Tião do bar inventou uma boa. Como não havia quase malharia no interior. Era difícil conseguir camisas de jogador. Ele mandou fazer uma de brim para o nosso Ferroviário. Aquele pano assava todo o nosso pescoço.
Por falar nisso quando era bem menor. Pedi para minha mãe fazer uma camisa do Santos FC. Eu era pelezista, e segui o exemplo do outro Tião. Na camisa de morim Ave Maria, costurei um distintivo do Santos, que cortei de uma flâmula e coloquei o número 10. Eu vestia um calção branco, o meião branco e ia treinar com aquele uniforme. E sempre dormia com aquele paramento.
Depois comecei a treinar com os jogadores do Tavorense. E comecei a usar um calção que estava escrito “União”. O Maurílio Possati perguntou: “Si... Vo... Si... Vo... Você já jogou no União de Bandeirantes?” Respondi que sim de medo de não mais poder treinar com eles. Mas o calção era feito de um saco de açúcar cristal União. Foi muito divertido.
Em Conselheiro Zacarias, um lugarejo, havia um campinho, na margem da linha férrea, onde um jogador não enxergava o outro. Aquilo era muito gozado. A gente tinha que perguntar se tinha sido gol aquele ataque anterior. E com a bola nos pés tinha que driblar os adversários, as touceiras de mato e os bolos de fezes das vacas do Zé Leite.
Eu tinha inveja dos jogadores que iam para o Campão como chamávamos nosso estádio, todo cheio de pose, ao lado da namorada que carregava a chuteira do craque.
E tinha inveja também daqueles jogadores que quando tinha jogo, era preciso chamá-los na casa. Nunca me chamaram. Eles jogavam com dez, mas não me chamavam.
Mas marquei o gol mais rápido do campão. Fui campeão amador do Colégio Comercial, na reserva, mas fui. Fui aspirante do melhor tavorense que já pisou naquele gramado. Quarto colocado no campeononato paranaense de 1962. Treinava ao lado de Caco, Bi, Cidico, Gancho, Armandinho, Pelé, Leonidas, Kioche, Maurílio Possati, Calil, Bento, Darci, Zizo, Ataíde, Wilson, Chapa, e muitos outros craques.
Espero que não tenha sido muito chato com os leitores e qualquer dia destes eu volto a contar mais histórias de futebol.