PARAISO
Quando não se tem nada para fazer, a única coisa que nos resta é pensar. E assim pensando, segui por estreita vereda, olhando para os lados, como se procurasse algo que ainda estava por existir. Os caminhos eram os da imaginação, o que eu procurava era surreal, ou ainda não real ou concreto. Invisível, portanto aos olhos físicos. Existente apenas no contexto de meus sonhos.
Enquanto meu pensamento ia tecendo e manipulando as energias que queria, minha mente ia moldando tudo que podia ser concebível.
Quando ultrapassei a região onde a floresta densa, permitia por raras vezes, ver um raio de sol, cheguei finalmente ao paraíso, local que eu havia imaginado e criado para que nele pudesse viver do jeito que sonhei.
A deslumbrante imagem que vi à frente seria indescritível, não fosse à máquina que eu levava e iria registrar os detalhes que visualmente ia percebendo e eternizando para o futuro.
Ajustei a máquina e como teste, tirei a primeira foto, logo ao chegar àquele lugar paradisíaco. Olhei a fotografia e após certificar-me que a máquina estava bem regulada, fui disparando o obturador em todas as direções e capturando as imagens que mais chamava a atenção. Embora houvesse uma seleção prévia de imagens, o local todo era composto de cenas de rara beleza.
Quando o pequeno cervo aproximou-se sem medo, eu sabia que além dele, todos os animais dali, jamais haviam tido contato com o ser humano. Eles nenhum medo sentiam que os fizesse fugir, fato não comum, em outros locais que já visitara. Ele se aproximou e após encostar-se em mim, começou lamber minha mão, como se quisesse dizer que eu era bem vindo àquele lugar.
Depois daquele ato de afeto, saiu em direção aos outros da espécie e depois seguiu rumo ao verdejantes campos que se estendiam até onde eu podia ver. Enquanto isso, outros animais iam desfilando tranquilamente em minha frente. Pelo que eu pude observar, nenhum medo sentiam e até pareciam ignorar-me.
Os pássaros haviam ensaiado o sonoro canto que eu ouvia por todos os lados. Ali onde o sol brilhava, eu respirava os odores das flores e via a exuberância das cores, tanto do verde da relva, como da variedade de flores que faziam do campo, um tapete multicolorido de flores e cores.
Além do canto pássaros e do chiado que alguns animais faziam quando andavam sobre as folhas secas, eu podia ouvir o som das águas que se precipitavam em cascatas, fazendo posteriormente um enorme remanso, onde os peixes pareciam festejar mais um dia.
E eu, que procurava eternizar aquele momento, através da objetiva de uma máquina, tinha por objetivo deliciar-me das energias positivas e da paz que o local transmitia, a todos que ali chegavam.
Ali sim era o paraíso, o local desejado para viver em contato com todas as espécies, harmonicamente. Bem perto do remanso das águas, um bosque com centenas de espécies frutíferas, misturava os odores dos frutos sazonados com as flores que entremeavam toda a extensão onde não havia árvores. No bosque, as laranjeiras engalanavam todo o ambiente e podia-se sentir o suave perfume de suas flores.
Por horas permaneci naquele lugar, refazendo-me do cansaço do mundo aonde vivo. Quando fui obrigado a voltar, abri os olhos e vi-me no local de antanho, onde teria novamente que conviver com o feio, num cotidiano que nem sempre é belo assim. Beleza que quase sempre, só encontramos em nossos sonhos.
23-10-09-VEM