Mãe e filhos
Num certo lugar, numa época indefinida, havia uma mãe que tinha muitos e muitos filhos de todas as idades e, involuntariamente, propiciara para eles educação, personalidades e principalmente, classe sócio-cultural diversa. Curiosamente, os filhos mais afortunados pelas benesses da genitora eram os que mais reclamavam. Sentiam-se assediados pelos irmãos pobres e a acusavam de não os protegerem de suas investidas. A mãe então resolveu que iria tentar minimizar o conflito financiando a sobrevivência dos filhos pobres para que esses não mais incomodassem aos irmãos melhores de vida. O caso é que ela dependia da “caixinha” de todos para equacionar os problemas, tal como um sindico o faz com o dinheiro do condomínio. Os filhos mais afortunados, que proporcionalmente pagavam menos, apesar de muito, novamente alertaram-na que não seria justo aplicar o resultado de seus percentuais, que eram mais gordos em números absolutos, em benefício dos irmãos paupérrimos. Que ela deveria criar uma atividade para que evoluíssem como eles o fizeram. A mãe tentou explicar que a ajuda era temporária enquanto preparasse uma alternativa definitiva para o progresso deles. Mesmo assim os filhos financiadores não concordavam com isso. A mãe então não lhes deu mais tanto ouvidos e continuou financiando a sobrevivência dos carentes além de manter as contribuições de todos com a desproporcionalidade de sempre, talvez como forma de satisfação aos filhos pleiteadores. Essa sua decisão suscitou uma multiplicação de reclamações e acusações à velha senhora. Seus filhos mais aparelhados acionaram seus irmãos medianos de vida para que divulgassem para toda a família as preferências da mãe pelos filhos imprestáveis. Por sua vez, uma parcela pequena desses filhos pobres, insatisfeitos com as providências da matriarca, também formou blocos de contestação atacando as propriedades dos irmãos mais ricos indiscriminadamente, desviando da finalidade reivindicadora para a qual se haviam articulado. Quase já não havia filhos isentos para dar equilíbrio aos julgamentos. Todos estavam de alguma forma, cerrando fileiras contra a mãe, exceto os da base da pirâmide, por jamais ter experimentado das guloseimas de então. A mãe, acusada e acossada passou a ser vitima de suas vítimas e algoz de seus algozes numa batalha sem fim fazendo com que grande parte dos seus filhos tramasse sobre seus defeitos e torcesse pela sua morte, uma vez que a consideravam no mínimo, injusta. E assim se perpetrou a contenda entre a matriarca e seus filhos.