Não sentir?
Olhei a árvore falecida... Morta e estatelada na rua.
Cortaram-na com machado e golpes de crueldade...
Atravessada entre os galhos vivos e os seus entulhados para o caminhão pegar.
Trinta e poucos anos... Uma amendoeira.
Quem matou?... Pelos traços suados, alguns homens da mesma idade.
Pensei... "E se fosse eu a amendoeira?!"... Tenho trinta e todos (quase).
Alguns tentaram perguntar o motivo... Mas, mesmo assim, não há motivos... Não estava atrapalhando... Não cobrava nada e nem devia nada... E se, na garagem, o homem não podia entrar, é porque quando foi plantada não havia garagem... E ainda não tem.
Quem chegou primeiro, afinal?...
Em pedaços menores estavam cortando as partes desiguais...
Alguns galhos serviam de banco para os que a golpeavam sem dó...
A árvore... Eu... Cortadas ao meio.
Olhei o menino descalço... Ele, olhava a árvore, sem entender, mas aprendendo... Deixaram tal cena como legado.
Cortaram-na... E chovia fino...
As folhas grandes, verdes, faziam-se de sonolentas... Fechavam-se.
A morte tem várias faces...
Nem as raízes eles deixaram...
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