EU NÃO GOSTO DE NÃO TER!
Praticamente não pude curtir a infância dos meus filhos, pois sempre tive de trabalhar muito. Isso foi um sacrifício, pois eu adoro crianças. Agora, quando já se aproximam os anos em que os meus netos chegarão, eu ainda labuto bastante, mas me divirto com as histórias dos netinhos das amigas.
Pedro é filho de Patrícia e Ênio Júnior, e neto de uma das melhores costureiras, bordadeiras e doceiras que já passou por Linhares (e que por acaso é madrinha de meu filho mais novo): Maria do Carmo da Silva Borges.
Em recente visita à minha comadre, soube que aos dois aninhos, Pedro está muito diferente da época em que ele olhava para algo, a seguir para gente, e soltava uma única pergunta: “O que é ixo?”.
Hoje ele já vai à escolinha, gosta de livros, sabe muito da história capixaba por meio de sua tia Aparecida Maria e é muito bem comportado. Uma das coisas de que ele mais gosta é de passear em hipermercados. Orientado a não pedir nada que sejam brinquedos ou “porcarias”, ele não o faz mas insinua bem, pois pega os carrinhos que lhe encantam e diz: “Vó, esse aqui eu não tenho e ...eu não gosto de não ter!”. Isso costuma funcionar, pois como ele é um garotinho adorável, ninguém ousa negar os seus “pedidos” criativos.
Acho esse raciocínio do Pedro formidável e comecei a pensar nas coisas que me “fazem falta” e que eu preciso de pedir ao meu Pai, que é dono de tudo que está no mundo e que pode todas as coisas. Como não tenho nada a lhe esconder, meu leitor, eu compartilho com você:
“Pai, eu Lhe sou imensamente grata pela minha vida e saúde, pela minha família inteirinha, pelos meus amigos, por ter bons empregos e, sobretudo, pelo pão honesto que eu consigo ganhar a cada dia. Muito obrigada mesmo! Sei que talvez eu nem merecesse tanto, já que às vezes sou uma filha bem ordinária. Refiro-me aos momentos em que eu estou pitando um Free Box ou ingerindo vinho e/ou cerveja, apesar de saber que meu corpo é casa do Seu santo espírito.
Acho que Você me perdoa e até me protege, porque, por outro lado, Você sabe que eu tenho um coração em que não cabem o ódio e a sacanagem de ver alguém se lascando e agir de duas formas incompatíveis com Sua essência: a) calar a boca por medo, alienação ou covardia; b) fechar o coração ou o bolso com desculpas idiotas como “eu preciso poupar para amanhã” (e eles nem sabem se terão amanhã, não é mesmo, Pai?) ou “eu não vou ajudar para não incentivar o mau costume dos pedintes” (como se pedir já não fosse um profundo reconhecimento de incapacidade, o que por si só é digno de pena).
Então meu Pai, como Você é meu AMIGÃO, com as desculpas de que eu me lembrei do Pedro e de que eu gosto de divertir meu leitor, eu quero verbalizar (Você conhece meu coração e minhas necessidades, eu sei!) as cinco coisas que eu não gosto de não ter:
1- dinheiro para viajar por esse Seu mundão;
2- um carrão conversível;
3- um apartamento de 05 suítes de frente para o mar;
4- mais tempo para cuidar de mim; e
5- inspiração para escrever coisas divertidas para o meu leitor.
Como Você, Pai, é mais generoso do que a vovó do Pedro, sei que logo, logo, eu vou olhar os muitos e variados carimbos que meu passaporte terá e me recordarei com prazer de todos os países e pessoas que eu conhecer. Também acredito que eu vou desfilar lindona (com meus cabelos esvoaçantes. Rs,rs,rs...) no meu BMW 645, que vou acordar, abrir a minha janela e ver um mar muito azul à minha frente, e, por fim, que eu vou sentar-me num lugar lindo e inspirador só para escrever muitas coisas legais, pensando com carinho nos meus leitores.”