O JUDICIÁRIO E EU

Audiência às 13:30.Chego ao fórum , às 13:25 .Cliente já aguardando ansioso , testemunhas alvoroçadas . Desligo o celular . Afinal, está na hora da audiência .

Acalmo os clientes , as testemunhas . Nada de mais : apenas uma ação de cobrança . O inquilino deve o aluguel desde setembro de 2006, condomínio deste junho de 2006 e IPTU , há mais de 4 anos.

Nada demais .Direito líquido e certo , mas não tão líquido , a ponto de derramar e não tão certo , a ponto de que não pudesse ser entortado ( diz-me uma voz soturna, lá dentro do meu ser ) .Aquiete-se , nada demais , digo eu.

14:45 . Nada . A audiência não começa. A Juíza ainda não chegou . Lembro-me que preciso falar com o escritório . Ligo o celular , falo o que preciso. 15:05 . Nada . A audiência ainda não começou.

Falamos de amenidades , na tentativa de acalmar meu cliente. Olho em frente . Os réus , o advogado . Toldos afastam o olhar . Nos observam como se olhassem para o nada.

Nada de mais , mesmo . Uma simples cobrança.

Afinal, eu já conhecia a tese de defesa . Iam alegar que uma cláusula contratual lhes garantia o direito de descontar l/3 do valor do condomínio . Mas , se nem o condomínio pagavam , descontar do que ?

15:10 . Somos chamados pelo estridente microfone da sala da juíza. Coração bate um pouco forte . Esta juíza não guarda o decoro necessário com os advogados e já tive vários problemas com ela. Mas , isso não vem ao caso agora.

Hoje , não vou discutir .É caso apenas de matemática . Planilhas, recibos ,etc.

A Audiência inicia-se . A Juíza percebe que os réus são devedores convictos e procuram uma razão para não pagar. Menos mal , não haverá nenhuma discussão.

Apressadamente , confiro os documentos que apresentaram: recibos de aluguéis pagos , retruco que os últimos foram com cheques sem fundos. No final , a juíza , percebendo que eu me demorava na verirficação e não sei porque cargas d’agua , a minha mão tremia frente àquelas pessoas que tentavam esquivar-se de seus compromissos , usando ardis , a juíza , então , resolve dar prazo para que eu possa averiguar e “ falar “ sobre os documentos .

Que bom ! Respirei aliviada . Não precisei nem pedir , ela leu os meus pensamentos.

Está indo tudo bem , com exceção daquela gosma horrível que eu comecei a sentir em minha direção , emanada daquelas pessoas que buscavam usar o judiciário para locupletar-se .

A juíza inicia com depoimento pessoal do meu cliente, autor da ação de cobrança , que , naquela altura virou réu porque os tais inquilinos alegavam que haviam sofrido dano moral , porque o meu cliente não atendeu à cláusula do contrato que determinava o desconto de l/3 do

Só que ... como se aqueles miasmas houvessem me atingido . O meu celular toca. Droga ! Levanto-me para entregar a minha bolsa à testemunha que estava sentada , logo, ali , perto da porta , no saguão do fórum.

Enquanto me levanto a juíza grita: - Doutora, Doutora, vem cá doutora. Sem noção , não vê que estou tomando o depoimento pessoal do seu cliente e a senhora tem que estar aqui? Sem noção mesmo...

A frase dela foi mais longa do que o tempo em que levei para levar bolsa ate a porta e voltar.Foram , ao todo , 4 passos, 2 para ir e 2 para voltar.

Respondi , não é falta de noção, estava apenas entregando a minha bolsa...

E o depoimento continuou, a audiência prosseguiu e eu , fiquei com as minhas mãos ainda mais trêmula e estupefata com tanta falta de respeito : primeiro : atrasou a audiência por mais de 2 horas , segundo : como um simples celular esquecido ligado dentro de uma bolsa da advogada provocou tanta ofensa à magistrada , a ponto de descer o nível , a expressões : “ sem noção “ .

Então eu fico assim cada vez mais estarrecida porque o que eu calei , agora tento expressar : quem desrespeitou quem ? a juíza que começou a audiência com 2 horas de atraso e desceu o nível , destratando a advogada na frente dos clientes , dos estagiários , do serventuário , do advogado da outra parte ou a advogada que esqueceu o celular ligado ?

Quanto ao deslinde do processo , contarei outro dia, quanto ao comportamento da magistrada , quem dirá ?

Therezinha Henriques
Enviado por Therezinha Henriques em 29/10/2009
Reeditado em 29/10/2009
Código do texto: T1893145
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