A Falácia do Ateísmo Saramaguiano

A Falácia do Ateísmo Saramaguiano

Jorge Linhaça

Aos que não gostam de assuntos polêmicos, apenas parem por aqui.

A falácia do homem de palha (também falácia do espantalho) é um argumento informal baseado na representação enganosa das posições defendidas por um oponente. "Armar um 'homem de palha'" ou "tramar um argumento 'homem de palha'" é criar uma posição que seja fácil de refutar, e em seguida, atribuir essa posição ao adversário. Uma falácia do homem de palha pode ser de facto uma técnica de retórica bem-sucedida (isto é, pode conseguir convencer as pessoas) mas, é realmente uma falácia desinformativa porque a argumentação real do oponente não é refutada.

O nome da falácia deriva da prática de se usar espantalhos no treinamento de combate. Em tal prática, um "homem de palha" representa o inimigo, e é criado apenas para que possa ser atacado

Fonte Wickpédia.

Acabo de ler um extenso e-mail sobre o mais novo título de José Saramago: "Caim"

Que o ilustre escritor, nobel de literatura, tem o direito de escrever sobre o que bem entender e

expor o seu ponto de vista não resta dúvida. No entanto as suas declarações, para além de polêmicas, não parecem, de maneira alguma estar de acordo com as suas ações.

Como é de conhecimento público, Saramago declara-se um ateu convicto e nega a existência de Deus, no entanto parece que seu livro de cabeceira é justamente a bíblia, ao menos é o que nos leva a crer a sua constante abordagem dos textos bíblicos, ainda que para contestar profundamente as convicções religiosas presentes no bojo da sociedade.

Em Penafiel, o prêmio Nobel considerou que "sem a Bíblia seríamos outras pessoas. Provavelmente melhores".

Atrevo-me a discordar diametralmente do escritor lusitano, embora talvez possa compreender, ao menos em parte a sua indignação contra as religiões.

Independente da denominação relogiosa cristã ou judaica abraçada pelos povos ao redor do mundo e, apesar de todas as deturpações pelas quais o santo livro tem passado ao longo do tempo, seja no acréscimo ou exclusão de versículos ( de forma total ou parcial ), seja nas diversas interpretações que a mesma tem sofrido pelas diversas denominações; não fosse a difusão dos ensinamentos ali contidos e a sociedade como um todo já teria mergulhado em uma Era de trevas bem maior do que aquela em que nos encontramos.

Embora todo fanatismo leve a discórdias e consequentemente a disputas sem fim sobre quem possui a maior parcela da verdade, é inegavel que os princípios morais ocidentais estão largamente baseados nos ensinamentos bíblicos. O que parece passar despercebido à maioria das pessoas é que, quanto maior a permissividade com que se tratam esses valores, maior o declínio da sociedade como um todo.

Não querendo entrar no mérito específico do caso a caso, mas apenas para exemplificar, se buscarmos causas para o aumento de vários problemas socias, encontraremos a desagregação familiar como um dos maiores motivos que dão origem a essas mazelas.

Apenas para ilustrar, a bíblia, com seus códigos de condutas, ou mandamentos, se assim o preferirem, se seguida à risca, especialmente o novo testamento, permitiria aos povos uma convivência extremamente saudável.

A verdade é que a humanidade, cada vez mais, afasta-se dos preceitos bíblicos, muitas vezes por causa do autoritarismo dos líderes religiosos. No entanto querer imputar à bíblia a falta de vontade do ser humano em compreender e seguir os seus ensinamentos seria o mesmo que imputar à escola como um todo, a culpa pelo baixo rendimento ou desinteresse dos alunos.

Existe uma grande confusão entre o que significa ser ateu e apenas ser avesso a seguir uma denominação religiosa.

Ser ateu significa não crer na existência de um ser superior seja lá qual o nome que o designe. Negar a existência de Deus, significa não dar-lhe nenhuma importância e Saramago está bem longe disto.

Parece-me antes que , através da negação da deidade de forma assintosa, e rebuscando texto bíblicos para tentar comprovar a sua inexistência, o escritor lusitano cai em um paradoxo que me permite imaginar que intimamente deseje que " caso Deus exista" comprove a sua existência através de um sinal inconteste de sua presença.

A própria bíblia nos alerta sobre isso ao dizer que muitos buscarão por sinais.

Claro que a reação da comunidade religiosa judaico-cristã às declarações de Saramago acabou por despertar a curiosidade sobre seu recém-lançado título e consequentemente alavancou as suas vendas. Não faltaram acusações sobre um possível golpe publicitário mas, mesmo essas acusações só servem para aquecer o debate e fazer despertar o interesse pelo trabalho do autor.

Do ilustre colega confesso que não consegui chegar ao fim do " Evangelho Segundo Jesus Cristo" e gostei da versão cinematográfica do " Ensaio sobre a cegueira".

A meu modo de ver, uma pessoa aparentemente culta e erudita como Saramago, talvez devesse exercitar o seu dom da escrita para debater questões mais importantes e producentes para a humanidade como um todo.

Volto a dizer que respeito o direito do autor de escrever sobre o que lher "der na telha" e expor os seus pontos de vista, assim como reservo a mim mesmo tal direito.

Concordando ou não com ele, defenderei sempre o seu direito de expor seu pensamento ainda que venha a contestá-lo quando nossos pontos de vista forem diversos.

*****

Citações de Saramago

"Não percebo como é que a Bíblia se tornou um guia espiritual. Está cheia de horrores, incestos, traições, carnificinas."

Referiu ainda que costuma chamar ao livro sagrado dos cristãos "um manual de maus costumes".

"Não é contra Deus que escrevo até porque ele não existe. É contra as religiões.Porque não servem para aproximar as pessoas nem nunca serviram"

Saramago divulga trecho do livro “Caím”

“Quando o senhor, também conhecido como deus, se apercebeu de que a adão e eva, perfeitos em tudo o que apresentavam à vista, não lhes saía uma palavra da boca nem emitiam ao menos um simples som primário que fosse, teve de ficar irritado consigo mesmo, uma vez que não havia mais ninguém no jardim do éden a quem pudesse responsabilizar pela gravíssima falta, quando os outros animais, produtos, todos eles, tal como os dois humanos, do faça-se divino, uns por meio de rugidos e mugidos, outros por roncos, chilreios, assobios e cacarejos, desfrutavam já de voz própria. Num acesso de ira, surpreendente em quem tudo poderia ter solucionado com outro rápido fiat, correu para o casal e, um após outro, sem contemplações, sem meias-medidas, enfiou-lhes a língua pela garganta abaixo. Dos escritos em que, ao longo dos tempos, vieram sendo consignados um pouco ao acaso os acontecimentos destas remotas épocas, quer de possível certificação canónica futura ou fruto de imaginações apócrifas e irremediavelmente heréticas, não se aclara a dúvida sobre que língua terá sido aquela, se o músculo flexível e húmido que se mexe e remexe na cavidade bucal e às vezes fora dela, ou a fala, também chamada idioma, de que o senhor lamentavelmente se havia esquecido e que ignoramos qual fosse, uma vez que dela não ficou o menor vestígio, nem ao menos um coração gravado na casca de uma árvore com uma legenda sentimental, qualquer coisa no género amo-te, eva. “

Nota: Não é erro nosso a falta de maiúsculas nos nomes próprios, a começar pelo do roteirista mor da trama, Deus. Como também explica o Bibliotecário.Foi opção do autor capitalizar um único nome em todo o livro: o de sua esposa Pilar del Río, que também traduziu Caim ao espanhol. Na dedicatória, Saramago escreve: “A Pilar, como se dissesse água”.

O nobel é conhecido por seu ateísmo. Dias atrás chamou o Papa Bento 16 de “cínico” em um colóquio em Roma, como se pode ler na Folha Online.

Contatos com o autor

anjo.loyro@gmail.com

Arandu, 25/10/2009

Como adquirir o livro A GRANDE JORNADA do escritor Jorge Linhaça:

No momento o livro encontra-se disponível com o autor.

O livro pode ser adquirido diretamente com o autor pelo valor de

32 reais já incluídas as despesas de remessa.

Para adquiri-lo efetue o depósito do valor correspondente na seguinte conta poupança :

Banco do Brasil (001)

Agência 0203-8 conta poupança 27.165-0

e envie o comprovante escaneado do depósito ou os dados do mesmo para anjo.loyro@gmail.com, mandando junto, é claro, o endereço para remessa do livro.

O prazo de recebimento do livro é de aproximadamente uma semana após efetuada a compra.