Chuva

São quatro horas da tarde. A sala tem um número razoável de funcionários, debruçados no trabalho.

Temperatura agradável. Controlada pelo ar refrigerado, não mostra aquele ambiente de trabalho insuportável, homens com o nó da gravata no meio do peito, mulheres com a maquiagem derretendo.

Escritórios de grandes empresas hoje são todos iguais. Móveis padronizados, divisões que permitem ver as cabeças dos funcionários, cores neutras. Poe este motivo, a mesa do diretor era visível por todos; é a regra.

Onze andares abaixo, a rua. Gente passando apressada, outros olhando as poucas vitrines, o lugar não era de comércio. Alguns tipos mal-encarados mostravam nitidamente que tomavam conta do lugar. Uma grande e conhecida firma que lidava com pedras preciosas tinha seu escritório nos arredores. A Vida é estranha. A três quarteirões dali, as construções mudavam abruptamente. Em alguns edifícios velhos, contavam-se os prostíbulos existentes.

Quem pode mudar esta realidade? Não existe, cidade grande é assim, com seu trânsito lento, engarrafado, o burburinho do povo fazendo-se ouvir.

E daí? E daí que ela havia marcado um encontro com o seu namorado da vez, estava doida para ver-se trancada num espaçoso quarto, com ante-sala e banheiro. Fora seguida desde que saiu de casa, em local próximo.

Não sentiu quando foi mais uma vítima dos tempos violentos. A facada certeira a fez cair, sua bolsa abrir-se, espalhando quinquilharias de mulher pelo chão já batido por forte chuva.

Nos edifícios altos, o trabalho continuava tranquilamente.

Jorge Cortás Sader Filho
Enviado por Jorge Cortás Sader Filho em 28/10/2009
Código do texto: T1891699
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