UM NAMORO AMERICANO...

No ano de mil novecentos e sessenta e oito, fiz parte de um grupo de estudantes brasileiros que foi terminar um curso de inglês nos Estados Unidos, na University of South Florida. Assim que chegamos me propus a entrar em contato com algum aluno de lá, para ir logo treinando o inglês que mal sabíamos falar...

À noite, enquanto conversávamos em nossa mesa, na cafeteria um rapaz muito simpático, louro, de olhos azuis correspondia alegremente ao nosso flerte...Bem, como não queria perder tempo, logo já estávamos conversando. E eu, com dois dicionários de bolso, inglês-português, travava meu primeiro contato com um americano de uma famosa universidade. Foi realmente cômico o início da nossa conversação, e a mímica então, era um outro bom recurso para nos entendermos melhor.

Como nós já sabíamos sobre a vida deles na universidade e o modo como eles se comportavam com as mulheres, etc e tal, não tive nenhuma preocupação, e me sentindo uma "americana" aceitei passear com ele, logo na primeira noite e acabamos conhecendo o trailer onde ele morava.

Lá chegando, ele me apresentou para o seu amigo que dividia as despesas com ele, o qual, muito sorridente, me fez sentir muito à vontade, como se já fôssemos amigos há muito tempo... Conversamos sobre vários assuntos, claro que, com alguma dificuldade. Eles me perguntaram muito sobre o Brasil, me ofereceram um "drink", enquanto eu observava tudo à minha volta.

A sensação de estar nos Estados Unidos, junto a um americano no seu ambiente, valia a minha viagem.

Que diferença de cultura, meu Deus...pensava. Se fosse no Brasil não acredito que tudo teria saído como eu queria!

Sentindo-me uma rainha, fui trazida de volta por aquele gentil rapaz, num grande e belo carro, pelas rodovias do camping universitário.

Soube depois, por outros alunos, que o Michael era um dos melhores alunos da Universidade. Ele fazia Ciências Políticas e não tinha preconceito racial, tomando as suas refeições sempre à mesa dos alunos negros. Eu o admirei muito enquanto estive lá...

Como diretor do Teatro Universitário ele me dava sempre convites para assistir às peças de teatro, e como um " gentleman", vinha me buscar para lhe fazer companhia. Jamais esquecerei aqueles momentos inusitados, pois, sozinha, em meio àquela plateia americana, de alto nível, e ao lado de um americano que mal acabara de conhecer, ouvindo os atores e atrizes falando um inglês americanizado que mal entendia, e diante daqueles efeitos técnicos que me deixavam meio zonza... Meu Deus, era muito para a minha cabeça de interiorana !

Ficávamos somente no namoro leve, como eu gostava...

As minhas amigas ficavam admiradas com a atenção do Michael e sua educação. Um dia ele nos levou para conhecer o seu apartamento em Saint Pittisburg, e pelas estradas de rodagem, correndo em alta velocidade, naquele carro enorme-- não me ligo a marcas--parecia que eu fazia parte de um filme americano. Quando eu dizia para ele que tinha medo de velocidade ele me respondia que muito pior seria o medo de enfrentar os furacões da Flórida.

Numa outra vez ele nos levou à casa de seus pais para almoçarmos, e como nos filmes, não faltava o litro de leite sobre à mesa.

O melhor, ou o pior da história é que fui me atraindo por aquele rapaz e ele por mim, e quando estava chegando a hora de voltarmos enfrentei um grande dilema: ficar mais tempo lá, já que não sentia nenhuma saudade do Brasil, pois ainda fazia pouco tempo e eu estava curtindo muito a viagem. O pessoal do Brasil reclamava que eu não enviava nem um cartão ...

Os amigos do Michael me diziam que ele iria começar a esfriar a nossa amizade porque não era do estilo deles ficarem chorando ou sofrendo por amor, apegos, etc. Convidavam-me para que ficasse lá pelos menos uns dois anos... Mas, como eu pressentia que ia perder o meu pai, decidi voltar.

E assim, quando partimos, o Michael não estava entre os estudantes que acompanharam a partida do nosso ônibus.

Foi uma choradeira só !!!

E o inglês? Bem, aprendi um pouco...

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