A vida leva...

E entre o céu e o inferno nós vamos vivendo na continuidade do cotidiano, aprendendo com as tralhas exigidas por ele, obedecendo ao destino, nem tão permissivo à nossa vontade. É o jeito irmos gonzagueando a vida entre sorrisos e choros. Fazer o quê? Não são poucos, todavia, os obstáculos que a vida nos oferece.

Com as exceções de praxe, a depender do que engendramos na lida diária, costumamos armar os artefatos e ver ressuscitar ou falecer dentro de nós desejos, arrependimentos ou obras inacabadas, já que sabemos muito bem que a completude fora de Deus inexiste.

Polarizamos discussões que, se bem pensadas antes, poderiam deixar de aborrecer-nos, porque a tolerância e a humildade são mesmo nossas melhores aliadas, beneplácitos de nossas sabedorias que só se avolumam dentro de nós, infelizmente, com o passar dos anos. Os tresloucados erram bem mais do que acertam, e ela só se concretiza quando aprendemos a driblar os varejos desinteressantes dessa mesma lida. As táticas repisadas, quase costumeiras e o famoso “deixa pra lá” ou “depois eu faço” não costumam dar certo para os que realmente desejam acertar e seguir.

Há muitos padrões antigos de vida que se têm jogado fora, ao vento, e, por isso mesmo, as famílias têm errado tanto e o mundo tem visto turvado o que deveria estar límpido, transparente, no que de permissivo socialmente prevalecesse. Estamos envelhecendo sem fé e sem amor, à beira do farisaísmo, como se houvéssemos desistido de ser gente. Passamos a crer nos números e nas estatísticas, além de idolatrarmos o dinheiro, santificarmos o cartão de crédito. A reflexão tem ficado a cada dia mais distante de nós. O mundo luze envernizado por desinteressante verniz, o que não é lícito para a maioria, nem tampouco para cada um isolado ou diluído no todo sobrevivido.

A vida moderna, parece-me, está sendo recheada por personagens famosas, habitando um enredo tresloucado, compondo um enredo de algum romance de ação, sem pé nem cabeça, escrito às pressas e sem um propósito claro e de leitura intragável. Estamos mesmo é desvivendo e proclamando a morte, o ócio e a desilusão. Estamos trabalhando para desconstruirmos o planeta. Vivendo um salve-se quem puder miserável. A vida bem que mereceria um cultivo mais glorioso e digno. Penso que, se estamos destruindo o planeta, poderíamos mais alegremente refazê-lo e a passos largos.

O que é bom para todos, certamente, será bem melhor para cada um de nós. Quanto maior for a desilusão, maior será também a destruição, porque aí faltará a esperança em um mundo melhor, mais alegre, mais vivo. O que eu não me canso de dizer por aqui nas crônicas que publico, carinhosamente, para os meus leitores, é que ainda há tempo para a reconstrução desse mesmo planeta. Sabemos que certas cicatrizes permanecerão intactas, mas a vida, como um todo, poderá ser preservada e nossos filhos e netos, poderão viver harmoniosamente. Pensem nisso. Façam as suas menores partes e, certamente, voltaremos a habitar um mundo miraculosamente perfeito, ninho de uma civilização que já deveria ter exaurido dentro de si essa capacidade incontestavelmente destruidora.