O grande amor de Cupido

    Pois é, na minha última estada em Roma, há pouco menos de um mês, descobri, não sei bem onde, uma estátua de Cupido, resplandecente e inspiradora.
    Torna-se difícil dizer exatamente onde a fui encontrar porque estava num taxi a caminho de Trastevere, e quem conhece Roma sabe que ela tem talvez o tráfego mais confuso do Universo.
     Faça-se, porém, justiça aos palavrosos e nem sempre cordiais taxistas romanos: eles não buzinam; não atropelam ninguém; e dificilmente se envolvem em batidas. Tomei cada susto! Mas logo me convenci de que os danados dos taxeiros eram bons no volante. 
    No centro, poucos semáforos foram instalados. Os motoristas, entretanto, têm a medida exata das ruas, ruelas, esquinas, avenidas e cruzamentos da milenar capital italiana! 
    Vez em quando um xinga o outro. E uma discussão entre italianos vira uma sinfonia interminável, alcançando, em alguns momentos, decibéis que vão além do desejado. 
     Mas eu dizia que em algum lugar de Roma, naquela tarde-noite, eu, por acaso, descobrira uma bonita estátua de Cupido. 
     Os romanos  capricharam na representação do seu deus do Amor. Fizeram-no diferente de Eros, o deus do Amor grego. 
     Enquanto a Grécia antiga exibiu Eros como "um belo jovem, esguio e atlético", a mitologia romana fez Cupido  "um menino gorducho, muito parecido com os anjinhos que voam como beija-flores nos jardins do Paraíso". 
    Tais diferenças são mui bem destacadas pelo escritor Cláudio Moreno, na crônica O amor não é cego, do seu livro Um rio que vem da Grécia
     Eros um jovem, para os gregos; Cupido, um garotinho, para os romanos.  Mas tanto Eros como Cupido têm asas, o arco e flechas prontas para atingir corações.

    Muito bem. Conta a Mitologia romana, que Venus, olhando para a Terra, descobriu uma linda mulher chamada Psiquê. 
    Deusa muito vaidosa, Venus não aceitava que alguém fosse mais bonita do que ela, inda mais uma pobre mortal. 
    Que fez ela então. Primeiro, através de Mercúrio, mandou uma carta para Psiquê advertindo-a de que ela haveria de casar com "a mais horrenda criatura". Pôs Psiquê em pânico.
     Não satisfeita, chamou seu filho Cupido e lhe pediu que atirasse uma de suas flechas de amor em Psiquê, fazendo-a apaixonar-se pelo homem mais feio do mundo.
    Cupido foi até a casa de Psiquê, deparando-se com uma jovem mulher encantadora. 
Aproximou-se dela o mais que pode; não devia errar o alvo.  Mas quando ia arremessar a seta, eis que Psiquê se mexeu. Resultado: Ao invés de atingir a jovem, ele, Cupido, foi  atingido. E - pasmem! - ficou perdidamente apaixonado por Psiquê.
     Pediu, então, a Zéfiro (vento) que pusesse a amada nos ares e a colocasse num belo e confortável palácio, o seu palácio. E isso foi feito. Cupido declarou amor a Psiquê, mas lhe fez um pedido: que ela não tentasse vê-lo, pois só assim seriam felizes para sempre. 
Sem dúvida, uma maneira estranha de amar.
    Continuou visitando Psiquê e esta ficava cada vez mais intrigada com a "presença" daquele amor invisível. Uma noite, os dois se encontraram e se amaram...
    Depois da noite de amores, Cupido adormeceu. Psiquê aproveitou o sono do amante, e, de lamparina à mão, descobriu a beleza de Cupido. Cupido acordou assustado e desapareceu, deixando Psiquê em lugar hostil.
    Retornasndo ao Olimpo, pediu a Zeus que lhe mandasse de volta o seu grande amor. Zeus relutou, sob o argumento de que o deus do amor não podia casar com uma mortal.
     Não resistindo aos apelos de Cupido, que se dizia verdadeiramente apaixonado, mandou Zeus que Psiquê fosse levada ao Olimpo, tornando-a imortal. 
       Os deuses não se opuseram à união de Cupido e Psiquê; inclusive a deusa Venus. 
Venceu, portanto, o AMOR.
        
       

       
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 27/10/2009
Reeditado em 07/07/2013
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