Em Busca do Humor...
 
            A posição de um cronista que queira se mostrar bem-humorado, fazendo rir ao leitor, com uma parte alegre que todos temos, ou deveríamos ter, mas que insiste em se mostrar escondida, torna-se cada vez mais difícil, diante das não tão divertidas tiradas que o mundo ao redor nos oferece a cada instante. Resolvi percorrer um caminho em busca do bom-humor querendo traçar histórias que façam rir, por que de lágrimas nossa vida já anda cheia com o ar da graça de nossas novelas diárias.
            Comecei então a assistir jornais em busca de notícias que pudessem traduzir bom-humor e quase entrei em depressão ganhando dor-de-cabeça crendo que o mundo deve estar por se esfarelar a cada giro em torno de si mesmo.
            - Benhêee! Cadê a Aspirina? – Pedi para a minha esposa.
            - Acabou.
            - Liga para a farmácia.
            - E por que você quer Aspirina? – Perguntou irritada. Somente pelo seu tom de voz cuidei de melhorar por mim mesmo. Resolvi deixar passar e fui assistir a um programa humorístico daqueles americanos na TV por assinatura. Não consegui entender as piadas e fiquei mais triste ainda. Uma das coisas que mais gosto é de ficar ¨zappeando¨ pelos canais. Quando geralmente pego no controle remoto, se minha esposa está no sofá trata de sair:
            - Essa sua mania de mudar de canais é insuportável.
            Creio que seja verdade. Quando outra pessoa em casa assume o controle do apetrecho, desvela-se uma verdadeira tortura para os demais súditos daquela humilhação. O pequeno volume cheio de teclas tornou-se um símbolo moderno que traduz quem detém o poder nos recantos de um domicílio.
            Fico ali, transitando de um canal para o outro em busca de algo que me desperte a veia irônica já adormecida sob o peso de criar o hábito de ver o mundo como quem procura diamantes em meio a pilhas de estrume. Temos uma horda de canais que não sei para que existem, ou tenho dúvidas sérias sobre a audiência.
            Temos lá a TV Senado e um distinto membro do parlamento realiza um discurso arrastado, olhando para uma platéia que conta meia-dúzia de outros que não deviam ter coisa melhor a fazer senão se encontrar ali. O canal mais popular, no meio da tarde, passa um filme sobre um ¨carro desgovernado¨ que deve ter sido exibido cerca de 3000 vezes. Pelo menos eu já assisti a cena final pelo menos umas oito vezes. Em outra estação uma apresentadora hiper-maquiada naqueles programas em que se lava a roupa suja de um casal, exibe pseudo-conselhos matrimoniais. Fico imaginando o sujeito, no dia seguinte, tendo que encarar os amigos:
            - E aí João? Apanhando da patroa, hein?
            Procuro os canais de filmes e vejo violência, violência, terror, besteirol e um antigo filme de faroeste. Nada que me chame a atenção. No canal árabe uma novela feita por longos diálogos e nenhuma ação. No canal italiano um chatíssimo programa de auditório. O nosso Sílvio Santos é muito melhor. Nos demais não encontro nada do que me agrade. Sintonizo nos documentários e logo vejo que os assuntos não me interessam. Resolvo encerrar a procura e ir ler um livro.
            - Luís Fernando Veríssimo! – Suas maravilhosas crônicas hão de me inspirar e me imagino como personagem de uma delas, em especial uma no qual dois amigos de longa data se encontram e logo começam a brigar por que um passa a reparar nos defeitos do outro. Isso me traz à tona os ¨defeitos¨ que os anos corridos me fazem ganhar acentuando as nuvens escuras que ora me rondam.
            Volto então ao computador e me deparo com aflição de uma tela em branco e com os prazos de entrega e com mil e uma outras coisas que tenho que fazer depois de escrever e, simplesmente, descubro que como escritor adentrei por um daqueles buracos negros em que nada me aparece. Resolvo lembrar dos micos pelos quais todos passamos e só consigo lembrar da horrível situação de alguém que vai a um velório e diz para a viúva:
            - Meus parabéns!
            E essa, também distraída, cansada, talvez com quilos de medicamentos nas costas, responde em tom gentil:
            - Obrigada, você não imagina quanto suas palavras me animam.
            Nesse momento, quem estava perto imaginou estar diante de um quadro vivo de Dali pensando de ambos o pior dos mundos. Encerro a missão da crônica, sem a depressão inicial, mas sem atingir o objetivo fácil do riso, pelo menos fui, dentro da ótica que me permitem as musas das letras, tão verdadeiro quanto possível, diante desta dura realidade que nossos sonhos e delírios hão de cobrir.