Nostalgias

Surprendi-me, hoje, nostálgico. Sabe essas coisas que a gente começa a sentir depois dos quarenta e que acaba se agravando lá pelos cinquenta? Pois é.

Talvez a proximidade do "meio cento" esteja mexendo comigo mais do que eu imaginava que faria.

O fato é que cinquentão ou não, maduro ou não, acordei, hoje, lembrando de coisas de minha infância e adolescência. E não pude deixar de sentir saudades.

No caminho para o trabalho, conversando com minha mulher, no carro, falava de elementos de uma época, que já não existem mais. De um tempo guardado no pequeno baú de metal, lotado de fotos amareladas, que herdei de minha mãe.

Lembrei que a gente ia até a padaria, pedia uma ou duas bengalas - e todos queriam as pontas - e levava a garrafa vazia, para comprar leite. É, caro leitor, leite vinha na garrafa e tinha tampinha de alumínio.

Deu saudades, também, do refresco de groselha, vendido na cantina do Grupo Escolar Prudente de Morais, em copo americano, por dez cruzeiros, uma nota verde, com a efígie da Princesa Isabel.

Música a gente ouvia no rádio ou na vitrola, que tocava compactos simples, duplos e long plays.

Os programas na tevê Philco, Telefunken ou Phillips eram O Fino da Bossa, A Jovem Guarda e o Silvio Santos (esse continua por aí, desafiando o tempo) com a Cinderela e seu programa de galãs, que trazia figuras como Wanderley Cardoso, Marcos Roberto, Márcio Greick, entre outros.

Naquele tempo (e não faz tanto assim, afinal estou falando dos anos sessenta, no século passado, que acabou não faz muito... meu Deus, "século passado"! Essa expressão me assusta um pouco) não havia locadoras de DVD, tampouco tevê por assinatura. Nós íamos, aos domingos, assistir à matinée no Cine Metro, na Avenida São João, que apresentava desenhos do Tom e Jerry. Depois, uma parada na Salada Record ou na Leiteria Paulista, para um suco de laranja.

Hoje tudo isso me parece tão distante, apesar de permanecer vivo na memória, como um filme em preto e branco, que insistimos e rever dezenas de vezes, justificando ser um clássico.

O que mais me provoca a saudade, porém, não está nas lembranças dos painéis luminosos das lojas Pirani ou do jingle das lojas Garbo, repetindo, insistentemente, que eu precisava "de uma roupa nova".

Minha maior saudade é motivo de uma de minhas grandes tristezas, atualmente.

Naquele tempo, quando víamos uma criança perambulando pelas ruas, abandonada ou pedindo algo, sentíamos pena. Hoje, uma cena similar, em qualquer lugar da cidade, nos provoca medo.

Mudou o mundo ou mudamos nós? Como se não fôssemos nós, os formadores do mundo, como ele é.