O ÓVNI DO MALDONADO
Itamaury Teles
Escrevo esta crônica em meio aos rumores na imprensa de que os pais do garoto Falcon Heene, de 6 anos – que o mundo acreditou estar viajando em um balão à deriva, semana passada, nos Estados Unidos – estão envolvidos numa suposta fraude.
Para Jim Alderden, xerife do condado de Larimer, no Colorado, o relato dos pais - Richard e Mayumi Heene - foi um truque publicitário. Alberden estava firme em sua intenção de acusar o casal de conspiração, contribuição para a delinquência de um menor, falso relato a autoridades e tentativa de influenciar um servidor público.
Mas o advogado Richard Lane negou as acusações contra o casal, denunciando o linchamento na mídia de seus clientes, depois das declarações dadas pelo xerife de Larimer. "Lamentavelmente ninguém nos Estados Unidos acredita na presunção de inocência", indicou Lane. Segundo Alderden, as autoridades foram enganadas durante o incidente, quando todos temiam que o garoto Falcon Heene estivesse voando no balão artesanal prateado.
Não sei bem a razão, mas essa suposta fraude acionou estranhamente um processo mnemônico em minha mente, fazendo-me lembrar de algo acontecido em Montes Claros, faz mais de quinze anos. Talvez por envolver pais e filhos. Talvez pela aparência do balão artesanal prateado, em forma de disco-voador. Ou - quem pode saber? - pela fusão de ambos os fatores causais.
O fato é que uma estranha luz fez evoluções no céu escuro de Montes Claros, deixando a população sobressaltada. O canal local de televisão, afiliado à Rede Globo, filmou a aparição por bons minutos e a matéria foi destaque no programa dominical “Fantástico”. O suposto óvni fazia zigue-zagues e manobras rapidíssimas. Ufólogos e autoridades foram ouvidos sobre o objeto voador não identificado de Montes Claros. Todos foram unânimes quanto à bizarrice daqueles movimentos luminosos radicais, impossíveis de serem feitos por artefatos aéreos de tecnologia terrena.
Mas, uma semana depois, tudo veio a lume. Envolvia o então bancário Manilson Maldonado e uma engenhoca feita por ele para o deleite de seus filhos, que fora confundida com uma nave alienígena.
Era mês de ventania. Mês de agosto, propício para se empinar esse brinquedo que consiste numa armação leve de varetas, recoberta de papel fino, à qual geralmente se prende uma tira, o rabo, que lhe dá certa estabilidade quando empinado no ar por meio de uma linha. Também conhecido por arraia, cafifa, pandorga, pipa, raia ou papagaio, por este Brasil afora.
Sempre muito engenhoso, Manilson adaptou a um papagaio, que fizera para seu filho empinar, uma pequena lâmpada e espelho refletor de uma lanterna de mão, alimentada por duas pilhas palito.
A noite de lua nova cobria de negro os céus da cidade. De um certo outeiro, onde o vento soprava desimpedido, Manilson deu linha à sua pipa iluminada, sob os olhares extasiados de seus filhos menores. Quando a pandorga pairou sobranceira sobre o centro da cidade, deslocamentos rápidos da luz acoplada ao brinquedo infantil eram vistos no céu da cidade, em decorrência dos firmes e intermitentes puxões na linha. Aquilo chamou a atenção de um cidadão, de dois e, por fim, toda a cidade olhava espantada para o céu escuro, para ver as manobras radicais do suposto óvni.
Depois de toda repercussão na mídia, meio ressabiado com as conseqüências de uma inocente brincadeira, Manilson revelou todo o mistério. Alegou que não queria enganar ninguém. Apenas divertir um pouco seus filhos...
Hoje, aposentado como funcionário do Banco do Brasil, ele continua fazendo artes. Voltou ao seu antigo ofício, de exímio pintor de faixas, placas e cartazes. Com uma vantagem para quem o contratar: sessões gratuitas do mais fino anedotário norte-mineiro, excelente contador de causos que também é...