PÉ DE SERRA
Quero dançar um forro com você, do jeito mais agarradinho, os pés no chão, arrastados, rosto colado, as bocas bem perto da orelha emitindo um calor que vem de dentro do sexo.
A sua mão delicada de arte foi capaz de me bater.
Não no bumbum em prognóstico de delírio, mas no rosto, conforme a ira.
Doeu mais te ouvir falar tolices, do que sentir o rosto inchando e a pele latejando.
A culpa foi minha, de amar o homem errado, sem controle de si mesmo, coberto de conceitos que nem ao menos sabe prever. O homem que a cada momento é um mistério a ser desvendado, um vazio de explicações, uma bomba prestes a explodir.
Que não é capaz de me dar o que está em suas mãos, tão simples, tão fácil, que nos pertence.
É isso que me condena: o mistério, o vazio, a bomba. Presa num labirinto de paredes finas, com espinhos nas laterais. Minha cabeça roda e não sei para onde ir.
Quero dançar um forro com você, bem agarradinho, quase sendo um. Talvez eu fique tonta, talvez eu esqueça.