No dia do meu aniversário
O mundo celebra festivamente o 54º aniversário do velho Fabinho neste 25 de outubro. Sob os rigores dos anos, este cabra ainda persiste no hábito de engolir meropéia, dando-se o direito de levantar um brinde em seu próprio louvor, ato de tamanho cabotinismo, mas, no fundo do copo, cheio de uma “etílica brasilidade”, no dizer do poeta Jessier Quirino.
No meu 54º aniversário, ainda me preocupo pela satisfação dos interesses coletivos, mas como estou perigosamente com o prazo de validade vencido, já dobrando o famoso cabo da boa esperança, permito-me apenas recordar o passado, lastimar as dores da velhice e o empobrecimento ilícito a que sou submetido pelo Governo, algoz dos aposentados. Nos aniversários, é bom a gente fazer assepsia na alma. Nossa parte imortal, para quem acredita, é como os filtros: com o passar dos anos acumula impurezas.
No verdor dos anos, costumava comemorar no prostíbulo (palavra bela!) de Nevinha Pobre (sim, havia uma Nevinha Rica), com um magote de irreverenciosos amigos, na minha Itabaiana querida. A tal Nevinha foi a viga mestra da prostituição na rua do Carretel. Não era apenas uma comerciante carnal que só pensava nos lucros do lenocínio, era uma espécie de mãe e conselheira, amiga de suas meninas, a quem chamava de afilhadas. Para nós, uma mestra dos prazeres, merecedora do respeito e deferência dos rapazes. O romancista português Carlos Oliveira define a prostituta como “um bem coletivo”.
Hoje, fazendo uma retrospectiva da vida, vejo que não posso mudar o que passou, mas posso deixar pra lá. Plantar uma árvore, ter um filho, escrever um livro. Essa, em tese, seria a realização de um homem na sua passagem pela vida. Estou, nesse caso, de curriculum mais do que preenchido, até com um certo exagero. Plantei quase uma floresta em Bananeiras/PB, ao longo do curso de agronomia no Colégio Vidal de Negreiros. Só não replantei a Mata Atlântica inteira porque fui expulso devido a um entrevero com um capitão do Exército, mas isso é outra história. Tive seis filhotes, vingando cinco, e escrevi quatro livretos, sendo que um deles, “História de Itabaiana em Versos”, foi adotado pelas escolas de Itabaiana, o que atesta sua qualidade.
De qualquer forma, conforme a cultura dos números, segundo a qual somente os terminados em zero devem ser comemorados, resolvi não festejar meus 54 anos de vida boa aperreada. No máximo, farei uma festinha simples no interior de mim mesmo.
Prefiro lembrar das coisas divertidas de minha existência, que vou desfiando aqui na Toca do Leão, para o deleitamento dos meus seis ou sete leitores fiéis. Faço minhas as palavras do General Newton Estillac Leal: “Andei em muitas guerras, delas nem sempre trouxe uma vitória, mas de todas trouxe uma anedota”.
Citando ainda o grande Joaquim Nabuco, que em seu diário escreveu: “Sinto-me em ordem de marcha para o desconhecido. Quando se é jovem, os amigos, prolongamentos de nós mesmos, são jovens como nós e têm a vida diante de si. Na mocidade olha-se para diante e não para trás, e os camaradas pisam nos caídos sem o sentir. No declínio, está-se entre os feridos abandonados no campo de batalha, ouvindo os gemidos a que não se pode atender e esperando nossa vez de descansar...”
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