PASSAGEIRA POLEMICA
O ônibus vinha repleto de passageiros, resfolegando pelo grande esforço e soltando grossa coluna de fumaça do escapamento.
Lá dentro, um suarento cobrador fazia o melhor possível para organizar o pessoal, mas a balbúrdia era enorme. Coisa horrorosa!
E de parada em parada o número de passageiros só fazia aumentar. O motorista, alertado pelo cobrador em altos brados, observou pelo espelho retrovisor e, sem mais delongas, meteu o pé no breque, aplicando aquela famosa “freiada de arrumação” ! ...
Nesse exato momento, um cidadão tentava passar pela roleta com uma baita melancia sob o braço e, com a brecada, largou a fruta no piso do coletivo. A enorme melancia passou pela catraca, fazendo-a girar, e foi parar lá na frente, próximo à caixa
do motor do veículo.
Ato contínuo, o passageiro passou também e o cobrador lhe exigiu duas passagens:- a dele e a da melancia! O sujeito chiou, discutiu, mas não teve remédio, acabou pagando.
A seguir, foi lá na frente, apanhou sua companheira e vislumbrou um casal , no meio do carro, puxando a campainha do coletivo e dando sinal de descida na parada próxima.
Acercou-se e tão logo os dois se ergueram, ele se aboletou no banco, colocando a melancia ao seu lado.
O ônibus prosseguiu viagem, um gordo foi chegando perto, suado, e pediu gentilmente ao nosso amigo:-
“- Licença, meu senhor?”
“- Pra que?”, respondeu o outro, já meio invocado.
“- Pra sentar, ora bolas!”
“- Não senhor! Não vê a melancia? Ela fica, pagou passagem, tem direito!...
“- Mas, meu senhor, isso é um absurdo!”, replicou o gordo.
“- Já disse, cidadão:- a melancia fica onde está! Ela pagou. E fim de papo, tá legal?...”
Lá fora, a vida corria. Normalmente!...
-o-o-o-o-o-
Neves, 21/05/98