COISAS INÚTEIS?
Nunca gostei de exercícios, apesar de saber da importância destes para nossa saúde física e mental. Sendo fumante inveterada e tendo que dar uma "arejada" nos pulmões e no coração, além de "desenferrujar" o esqueleto, procuro ir e voltar a pé do serviço. Como passo o dia fora de casa, são duas caminhadas diárias de meia-hora que podem não parecer muito, mas considero melhor do que nada.
Santa Maria é uma cidade de porte médio, portanto a distância não é muita como a das grandes metrópoles. Assim, nessas duas meias-horas que caminho, aproveito para pensar. Tenho duas características que fazem parte da minha vida desde que tomei consciência de mim: exijo muito dos meus neurônios e sou adepta do "por que?". Não é a toa que busquei a História como área de atuação profissional.
Bem, nessas caminhadas diárias, observo e analiso o que vejo e aproveito para dissecar até a medula coisas que me entram na cabeça. Não vou falar aqui de todas as minhas interrogações. Isso posso fazer em outros escritos. Até já pensei na ideia de escrever uma série intitulada "coisas inúteis".
Hoje quero falar sobre algo que questiono há muito tempo. É sobre a faixa de pedestres. E inicio com uma pergunta: alguém já parou para analisar a importância das faixas de segurança? Sim, porque tem o nome de "faixa de segurança". Eu atravesso, diariamente, duas avenidas movimentadas, em trechos onde não existem semafaros. Mas, lá está a faixa salvadora e é nela que tento atravessar. Digo "tento", porque é um trabalho de Hércules. Ainda na calçada, avalio o movimento, aguardo um momento e coloco o pé na faixa. Esperando, de acordo com o Código de Trânsito, que os motoristas diminuam a velocidade e, como bons cidadãos, parem os carros. Santa inocência! O trânsito continua, em velocidade altíssima para o perímetro urbano, e lá estou eu, com o pé fincado, observando aquela corrida desenfreada, capaz de deixar o Rubinho Barichelo comendo poeira (ressalva: poeira não, porque é asfalto e deixar o Rubinho para trás não é tão difícil assim). Minha espera se prolonga. A fila de carros é dupla. De repente acontece o milagre! Um motorista, talvez conhecedor do Código, diminui a marcha e pára. Penso: é agora! Vou até a metade da rua e, num reflexo, estaco. Os carros da outra fila passam como foguetes, botando em risco os carros parados e eu, em plena rua, parada ainda. Encolho os ombros e retorno, cabisbaixa, para a calçada. O motorista educado me acena, como dizendo "fazer o que?", e segue. Espero, espero, os minutos passam, continuo com o pé na faixa e nada. Diz o Código de Trânsito que quando o pedestre está com um pé na faixa de segurança, o motorista deve parar. Eu estou com os dois pés! Talvez seja por isso que não param. Nesse caso, devo ser eu que não respeito a Lei!
Resultado: só me resta atravessar correndo, com risco de me estatelar no chão, em plena faixa de segurança.
Então, para que colocam essas faixas? me pergunto. Eureka! Descobri! Deve ser para me proteger em caso de atropelamento. Se eu for atropelada fora da faixa, perco meus direitos. Em contrapartida, se me atropelarem encima da faixa, me encho de direitos: direito de ser indenizada e assim poder pagar o hospital ou direito a um velório digno de uma cidadã cumpridora das leis.
Vocês devem estar se perguntando: como uma devoradora de cigarros, coisa totalmente inútil, se dá o direito de criticar outra coisa inútil? Isso é assunto para outro dia...