Carta ao marido da minha ex-mulher.

Alexandre Menezes

Amigo,

Ao completar um ano que ela foi embora contigo resolvi me manifestar. Vocês não sabem como uma traição muda a vida de alguém. Quase enfartei de raiva ao chegar a fatura do meu cartão de crédito. Resolveram fugir de forma romântica e compraram um pacote turístico em 12 parcelas no cartão adicional que havia dado a ela. Bem pior foram as fotos no Orkut.

No início quis processá-los. Só que no primeiro mês a raiva passou. Falo demais e em menos de uma semana todos sabiam da história. Começaram a me tratar como um coitadinho e até que foi bom. Ficar em casa sozinho é uma barra nessas circunstâncias e, como muitos pensam assim, passaram a me convidar para todos os tipos de eventos. Em menos de um mês, já conhecia todos os bons happy hours da cidade.

Não vou negar que ao cair a ficha que ela não voltaria baqueei um pouco e resolvi então tirar férias. Eu era o mais errado na nossa relação. Só pensava em trabalho, ouvir músicas chatas, não tinha uma vida social animada e só convivia com amigos nerds. Não me importava com meu corpo e aparência. Eu era um homem de 30 anos de idade com uma mente medieval. Já no segundo mês não os condenava mais. Paguei as parcelas como se fossem de um presente de casamento. Hoje, me sinto padrinho de vocês. Incentivei e dei os motivos para iniciar a relação de vocês.

Troquei todas as minhas roupas, o corte de cabelo e em seis meses meu abdômen trincou. Passei a freqüentar o clube como ela fazia e, conseqüentemente, conheci seus amigos e amigas. Sempre me olhavam com um olhar desconfiado, mas mudaram após algumas reuniões feitas lá em casa. Algumas passaram a vê-la como uma grande mentirosa porque eu não era a pessoa que ela afirmava ser.

A vida com ela também era chata. Vivia desconfiada e não me deixava fazer nada. Larguei o futebol, a sinuca e minhas idas ao samba. Acho que eu era um morto vivo e não percebia. Como pude um dia largar tudo por uma mulher? Pelo nosso relacionamento cada um pagou um preço: ela ficou com um marido monótono e eu com uma mulher mandona e adúltera que disfarçava muito bem. Perdemos tempo juntos. Éramos infelizes. Nunca daríamos certo.

Nossa relação acabou antes mesmo da sua chegada. Eu não queria era perceber. Criados para casar bem, éramos o casal perfeito para nossos pais: bonitos, inteligentes, educados, ela de futuro promissor e eu bem sucedido. Fomos direcionados um ao outro por conveniência familiar. Nossos filhos seriam, para eles, de ótima linhagem, mas não frutos de um amor verdadeiro. Fomos um equívoco.

Foram embora sem despedir e nunca mais no reencontramos. Nós três fomos covardes porque não soubemos terminar e começar nossas histórias: até a separação foi por procuração a pedido seu e respeitei. Aprendi muito no último ano e gostaria de agradecê-lo por não ser mais o mesmo. Ruim é a fama de corno, mas se não passa a gente ao menos acostuma e segue a vida.

Por mais que não acredite, tenho uma dívida contigo e quero alertá-lo porque o corno é sempre o último a saber: se esforce de verdade para ter dinheiro. É que já ficaram chatas as ligações e e-mails, da agora sua mulher, me propondo volta ou ao menos recaídas. Depois que fiquei descolado, interessante e tenho cara de amante, parece que ela descobriu que gosta mesmo é de estabilidade e dinheiro.

Abre o olho.

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