A dor de cabeça que o cinema me dava

Desde meus seis ou sete anos até lá pelos trinta, fui perseguida por dores de cabeça. As primeiras aconteceram logo que eu voltava do cinema. A cabeça doía tanto que eu tinha que ficar num quarto escuro e além disso sentia náuseas. Os médicos diziam que era por causa da vista. Mais tarde aprendi que aquilo se chamava enxaqueca. Das bravas.

De qualquer modo, todos os domingos pela manhã havia a sessão do Mercurinho no cine Palas ou Metrópole, aqui de Taubaté, que eu não queria perder de jeito nenhum. Eu e minhas amigas saíamos correndo da missa direto pro cinema. Depois de um filminho do Tom e Jerry vinha o seriado, que parava bem na hora do suspense e nos deixava com água na boca, esperando pela semana seguinte. Isso tudo sem contar a farra da molecada, que valia a pena.

Tinha também outros filmes que eu fazia questão de ver. Do Mazzaropi, do Roy Rogers, do Fernandel, do Yul Brynner – O Rei e Eu, Os Dez Mandamentos, Anastácia - além de Sansão e Dalila e outros que não lembro mais... Antes daquele do Charlton Heston como Ben Hur correndo na biga em volta da arena no tempo dos romanos antigos, esse já em cinemascope, só disponível em alguns cinemas de S.Paulo. Aquela tela grande, com sensação de curvada, que nos fazia sentir quase dentro da cena. Nessa época eu já era bem grandinha, mas as dores de cabeça continuavam. Só que agora eu sabia lidar melhor com elas.

Comecei esse texto pra falar das dores, enveredei pelo cinema e acabei me distraindo. Até esqueci aquela que estava me incomodando as costas, já passou. As outras, da cabeça, ficam para uma outra vez...