Projeto de vida
As bodas... Quem falou isso, outro dia, já nem me lembro, mas me lembro bem de uma coisa: vai fazer vinte e cinco anos que nos unimos, naquele dia chuvoso de dezembro. Toda a família, ou melhor, as duas famílias em peso estavam reunidas, primeiramente na igreja e depois no salão, para o nosso enlace. Essa palavra, agora, soa um tanto empolada, mas saía no jornal, freqüentava as notícias. Foi um dia, para nós, muito feliz. Sim, éramos jovens, éramos queridos, nossos corações inflavam de emoção.
Fica difícil pensar que lá se vão vinte e cinco anos de nossas vidas, anos que passamos às voltas com mil coisas, ocupados com nossos trabalhos, tentando levar da melhor maneira uma relação que por vezes se apresentava bem difícil. “Vamos fazer uma festa muito bonita!”, ainda ouço a voz entusiasmada de minha mãe, balançando a cabeleira levemente grisalha, os olhos faiscantes. Eles se esmeraram, tudo saiu a contento, fora uma ou outra escorregada, meus pais tão orgulhosos, meus irmãos com uma aparência solene, empertigada, os pestinhas se compenetraram, assumiram outra persona! Quem os visse nem imaginaria o quão levados eram, quantas artes perpetravam, não, aquele era o momento mais sério que viviam nas suas miúdas vidas, disso eu estava certa. Aliás, tudo parecia para mim revestir-se de um tom absolutamente formal, à exceção de um ou outro amigo que se dependurava aos nossos pescoços (sobretudo o do noivo), dava risadas e soltava alguma piadinha... E a cerimônia decorreu de acordo com o script habitual, numa comemoração animada que terminou, para nós, no instante em que escapamos para uma lua-de-mel planejada com toda a minúcia, coroamento de uma fase de muitos devaneios e de consentidos cansaços.
A partir daquele momento, descortinava-se uma carreira a dois.