ESTÁTUAS

Estátuas me impressionam muito, principalmente de pessoas em alguma forma de movimento. Outras, pela beleza, me deixam até sem fôlego. Mas há as que me causam angústia. Entre estas encontrará uma na cidade que moro. Trata-se de um homem pensativo no que esculpir num bloco de pedra. Certamente há um significado nela, mas pra mim ele está numa posição tão incômoda sentando sobre um dos calcanhares que me pergunto: porque não o sentaram num banquinho pelo menos? Sem respostas, geralmente passo por lá virando o rosto para poupar-me desse sentimento.

Mas tem outra estátua, que por mais que me angustie, não posso deixar de tê-la na mente. Foi Jesus que disse para não deixá-la sair do pensamento. É a imagem de uma mulher. O nome dela não sei. Mas sei que do seu marido é Ló. Foi ela mesma que se fez. Tornou-se uma estátua de sal, sendo sua própria escultora ao desprezar uma ordenança de Deus. A instrução tinha por fim o livramento dela e de sua família do juízo que caia sobre os habitantes de Sodoma e Gomorra.

De repente, escapando para um lugar seguro e às portas de uma vida nova, não conteve o impulso de mirar o que deixava pra trás. Imagino que enquanto torcia seus tendões e pescoço, dirigindo o corpo numa meia volta para olhar atrás de si o que o fogo consumia, sentiu sua pele secar e sua carne endurecer. Seu corpo esfriou como se fosse inverno por dentro. Os músculos entraram numa cãibra sem fim e sua língua experimentou o sabor cortante de sal. Juntamente seus pensamentos vagaram num ir e vir como de alguém que está sofrendo um derrame. Assim ela converteu-se em uma figura de sal, num movimento congelado como numa fotografia ou numa cena de filme em um “pause” infinito.

Penso que se eu a encontrasse não conteria minhas lágrimas. Sorveria todas sem perder uma. Assim sentiria na língua uma fração mínima do sal que ela amargou de forma profunda e perene. Agora ela está lá, fitando num olhar petrificado o que tanto a atraiu e com a fumaça logo desapareceu.