Dia desses estava remexendo arquivos de fundo de gaveta. Daqueles antigos, guardados lá nas lembranças mais remotas.
     Sem muita certeza, imagino que estivesse lá nos meus 8 anos – lá se vai um tempinho mais ou menos – vivia a meninice tão proveitosa, no sertão paulista.
     Na vizinhança tinha uns cinco garotos, mais ou menos na mesma faixa etária, e fora do horário escolar passávamos a tarde toda aprontando algo. Sempre inventando brincadeiras – que pouco se vê hoje em dia. Nossas mães tinham que argumentar muito para que fôssemos cada um para sua casa já beirando às 22h00min.
     Então, surge a história que nos aterrorizou durante bom tempo. O Braz.
     O Braz era um rapaz que devia ter lá seus vinte e poucos anos, embora, a nós, parecessem muitos mais. Andava sempre maltrapilho, com cabelos desgrenhados e uma imensa barba por fazer. Era, de fato, uma figura grotesca e assustadora.
     Quando algum de nós via o Braz vindo lá longe, gritava:
      - Olha o Braz. E não se via mais nenhum garoto na rua até ele passar. Ficávamos todos escondidos.
     Ele passava falando sozinho, gesticulando, sempre com aquela cara de bravo, causando-nos muito medo.
     Por vezes, algum garoto novo que vinha passar uns dias na casa de algum vizinho, resolvia meter-se a valentão quando o Braz aparecia. Ficava na rua a encará-lo (todos nós escondidos). E quando o “nosso Braz” passava, o garoto exclamava:
- Ohh Braz doidão!! Pra quê? Aí que o Braz xingava mais ainda e ficava ali babando feito fera brava. E nós, mesmo escondidos, saíamos todos correndo de medo que ele nos achasse.
     Foram dias incontáveis de nossa infância nessa aventura. Depois de um tempo nunca mais vimos o Braz.
     Hoje tenho plena certeza que o Braz não era uma figura tão grotesca como nos parecia, muito menos perigoso. Hoje sei que o Braz era um desafortunado doente mental, que vivia em seu mundinho aleatório.
     Mas, para nós crianças, era uma caricatura dos monstros de nossos sonhos.
     Hoje, restam saudades daquela época tão gostosa da infância.
     Saudades do Braz.
 

Stuka Angyali
Enviado por Stuka Angyali em 23/10/2009
Código do texto: T1882995
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