AOS HOMENS DE BOA VONTADE...
Das crônicas tiradas da vida...uma sincera homenagem.
O sol já subia a pino quando quase ao meio dia daquele dia, eu passava por ali no final da minha rua a completar uma descida por aquela pontual e quase final caminhada da manhã.
Pensava com meus botões que eu muito havia errado no horário do exercício quando percebi que ela também havia, posto que sua respiração deveras ofegante me chamou a atenção lá na esquina da volta, no início dum grande aclive.
Parou momentaneamente no meio fio para puxar o fôlego, e trazia nas mãos um saquinho desses de plástico com alguns pãezinhos fresquinhos da padaria, que os seus prováveis setenta anos de idade não lhe permitiam sustentar na subida, sob um sol tão forte.
Logo a sua frente, um ponto de táxi movimentava os passageiros de sempre, quando vi que um dos taxistas parou o carro para que ela pudesse subir.
Instintivamente a ajudei a subir no carro pela porta de trás, quando o motorista sentenciou:"suba com dona Amélia, que eu levo vocês duas para casa".
Foi a tal oportunidade que me fez conhecer a ambos.
O seu José, taxista daquele ponto, que já conhecia a dona Amélia, uma antiga moradora da minha rua .
"Percebi que hoje ela não conseguiria voltar, eu às vezes a trago de volta na subida...", me disse ele cheio de boa vontade, deixando-nos na porta da casa dela depois de rodar uns trezentos metros. Perguntei se lhe devia algo, me respondeu com um sorriso...e eu abençoei em pensamento aquele profissional tão sensibilizado com o seu entorno...
" Até logo seu José, obrigada por me ajudar a trazer meu pãozinho" disse a animada dona Amélia ao descer do carro, depois de se apresentar a mim e me convidar para um cafézinho sempre que eu pudesse...
"Mora sozinha?" lhe perguntei admirada."Que nada, infelizmente não, tenho é um monte de gente que só pega no meu pé, isso sim,...só querem me prender em casa, e só porque tenho oitenta e quatro anos...".
" É, de fato, andar pelas ruas está muito perigoso para a senhora, dona Amélia" disse-lhe eu a lhe ceder a oportunidade de minhas orelhas quase queimarem por um delicado beliscão: "está perigoso para todos nós..."menina"!"
Esperei que entrasse no seu condomínio, e segui mais uns cinquenta metros até entrar no meu, feliz por constatar que a vida sempre acontece, frente aos homens de boa vontade.