QUE PAÍS É ESTE?

A gente pensa que mais nada pode nos causar espanto hoje em dia. Que a violência é normal. Mas, assistindo, na RBS, uma entrevista com um Secretário de Governo de Pelotas (creio que o da Saúde) e tendo visto, anteriormente, a reportagem sobre um jovem de 19 anos, viciado em crack, vi que ainda tenho sensibilidade para me indignar.

O jovem foi internado diversas vezes e, por seis ou sete vezes, fugiu do Hospital. Segundo o Secretário, o Hospital Espírita de Pelotas usa o tratamento químico para manter os pacientes no período de desintoxicação. Sem grades. Fala-se em "grades" e têm-se a ideia de confinamento.

Tendo vivido a experiência da internação devido ao álcool, posso falar por experiência pessoal. Defendo a ideia do confinamento, sim, enquanto a pessoa se desintoxica. Porque é um período extremamente delicado e a abstinência causa problemas incríveis no físico e no psíquico. É nesse período que, além de desintoxicar e de sofrer a abstinência, o dependente inicia o processo de querer ou não parar com o vício. E o "querer" é o fator mais importante para a contenção. Não falo em cura, porque o vício é incurável. Ele é controlável, mas ninguém deixa de ser dependente se ali não residir o querer. E se voltar a usar uma única vez, recai.

Voltando ao jovem de Pelotas, senti um misto de tristeza e indignação ao ver a reportagem. Tristeza pelo depoimento da mãe e por ver o jovem arrebentando móveis e paredes. Tristeza por ser ele quase um menino ainda. Poderia ser meu filho, poderia ser filho de qualquer um de nós. Poderia ser nosso irmão, nosso sobrinho, nosso neto. Tristeza pelo desalento da mãe, impotente nas tentativas de ajudar o filho. Tristeza pela agressividade do jovem, totalmente dominado pela droga, esquecendo quem é, quem poderia ser. Esquecendo suas potencialidades, jogando fora um futuro que poderia ser brilhante. E tristeza por não ser aquele um caso isolado. Não é uma exceção, está se tornando regra.

E da tristeza, passei a indignação. Porque se joga tanto dinheiro fora neste País e não se investe o necessário para capacitar os hospitais no atendimento a dependentes químicos. Gasta-se demais com eventos que não curam ninguém _ é o "pão e circo" moderno. Gasta-se demais com parlamentares que não fazem jus aos salários altíssimos que ganham. Parlamentares que não legislam em benefício das necessidades básicas do povo, que vivem em CPIs da corrupção, fazendo pizza com a cara da população. Governos que não investem em saúde pública, que não dão recursos a educação e, por isso, vivem o drama diário dos presídios superlotados. Governos que insistem em não ver que é mais importante preparar a criança e o jovem para vencerem suas batalhas, do que socorrê-los no vício, no crime, na prostituição.

Enquanto sucederem-se governos olhando para seus próprios umbigos, o Brasil não terá jeito. Renato Russo já dizia "Que País é este?". E faz muito tempo que este País é isso que estamos assistindo. A coisa veio num crescendo, sem nunca alguém tomar uma providência para conter e, hoje, o monstro está engolindo a sociedade brasileira. Porque o problema não se limita mais as zonas carentes. Não. A praga se alastrou e, como uma epidemia, arrasa, hoje, famílias de todas as classes sociais. Ontem mesmo, o Jornal Nacional mostrou um "bando" de jovens classe média que furtavam carros (se bem me recordo, levaram de uma só vez, sete carros de um estacionamento).

Portanto, acho que está na hora da população se mobilizar. De reivindicar seus direitos. Ano que vem tem eleições. Está na hora de botar os neurônios para funcionar, de saber quem é quem e mandar para casa esses políticos que se perpetuam no poder, como se ele fosse vitalício. E de quem é a culpa? Do próprio povo que os reelege infinitamente. "Cada povo tem o governo que merece". Nunca esta frase foi tão oportuna como agora.

Termino, ainda indignada, me sentindo como aquela mãe, frustrada e desolada pelo caos. E lembrando ainda, do seríssimo problema nas favelas do Rio de Janeiro. Será que a Olimpíada de 2016 terá o dom de curar esses males? Tenho minhas dúvidas...