VOAMOS EM DIREÇÕES OPOSTAS

VOAMOS EM DIREÇÕES OPOSTAS

Os amantes sonham com realizações tardias, aquelas que lhes chegam tão perto que se sente fugir às mãos... A tão acalentada felicidade, aquele furor que nos leva sempre mais a frente da volúpia, do prazer inesgotável do ápice do orgasmo e que queremos transformá-lo em infinito, mais nos atropelamos e nem sempre conseguimos distinguir os sonhos da realidade fugaz de nossa vã existência... Mais na despedida, no ultimo aceno de mão ou do ultimo adeus não dado com palavras mais escrito na tela do computador, eu senti o peito apertado e os olhos escurecerem sem que eu os fechasse e mesmo acordado eu sonhei com aquele lugar mágico que idealizei para nós dois e vi o vento soprar pela cabana, engordando as cortinas amontoadas no passante e acordando um cacho de chamas da pequena fogueira. Gradualmente, o quarto foi tomado por uma penumbra azulada. Pela porta aberta via-se o morro nadar na luz pálida e, na faixa visível do céu uma nuvem prateada escura com bordas brilhantes fulgurava como algo acabado de sair de uma caldeira de fundição. O ar fluindo por ela estava fresco, morno, alto e tardio. Eu havia levantado mais ela permaneceu deitada fazendo experiências com a sombra da mão na faixa de luar vinda da janela, ainda pensando nas suas faltas, na incorrigível infantilidade disse num tom de discussão aquilo que eu jamais pensara um dia ouvir. Uma ducha fria num relacionamento que já prometia uma morada, uma vida a dois, a logicidade do companheirismo que logo foi substituída pelo individualismo do Eu posso, fiz e faço. Aquilo foi como se de repente toda a água do planeta virasse éter e o ar se transformasse em água, o que seria da vida assim? Um momento de variação, pensar o que havia escrito para aquele que ela jurara ser o amor da sua vida e, que agora a deixara, saia desatento daquele porto que descobrira não ser tão seguro, mais a distancia ela sentiu a pele arrepiar como se aquele frio tocasse o seu rosto quente. Pensou nele, nas suas palavras e soube que não existe como parar o que se diz ou escreve, afinal, é a representação fidedigna daquilo que somos e sentimos. Nesse momento, ainda em devaneios ela atravessou a sala, querendo uma visão do mar, abriu as cortinas e olhou mais nada viu a não ser a escuridão porque ela havia transformado a alegria em tristeza, abandono, rompimento do tênue elo da felicidade que estava em suas mãos mais que ela abriu e evaporou como éter ...

Ocorre-me quão freqüentemente nesses últimos anos passei por esse sentimento de suspensão e realidade, é que eu dependia desse amor como do ar que respiro e faria tudo para não perder porque me sinto cansado e cada mudança me deixa menos eu mesmo. É possível acostumar-se à segurança até mesmo onde ela não exista, mais eu já não mais estou nessa imaginária cabana, abri os olhos e os pássaros que estavam no ninho e que eram dois, se sentiram fortes, bateram asas e voaram em direções opostas, provavelmente não mais se encontrarão nessa dimensão planetária e o nosso lar ruiu antes mesmo que pudéssemos construir.