A Flor e a Abelha

O sol havia há pouco atingido parte do quintal e já iniciava seu ritual de “enxugamento” do orvalho, que cobria as plantas em suas folhas e flores...que tinha em suas extremidades gotículas escorrendo como pingente de cristal...

Eu também iniciava meu ritual após o desjejum; caminhar pelo quintal por entre as plantas e as árvores, antes de iniciar alguma tarefa do dia.

Sentindo o ar frio e puro que entrava na alma e n’alma espalhava a alegria e a sensação idílica daquela manhã... ouvindo o estalar das folhas secas sob os pés e os cantos dos pássaros trinando nos galhos, aproximei-me de um arbusto de azaléia que me premiava a visão com suas flores rosa arroxeada (“pink”) se destacando entre os “camarões amarelos” e os “bicos de papagaios”...

Ali permaneci por hora, extasiando-me daquele quadro encantador, onde a natureza agia com sua diversidade; ...da formiguinha “passeando” entre um talo e outro do arbusto;... da borboleta com seu esvoaçar como em “câmara lenta” fazendo rasantes entre uma flor e outra;...às abelhinhas a pousar de flor em flor em busca de seu néctar... Observei-as mais atentamente e percebi que havia dezenas delas, pequenas e pretinhas que parecia brilhar com o reflexo do sol em seu corpinho escuro.

Acompanhei uma mais atentamente e percebi que ela pousava na flor e entrava em seu interior, ali com as patinhas dianteiras e seu ferrãozinho, tocava os estigmas e as anteras da flor e removia uma diminuta substância, que, creio eu ser o pólen...o qual ela fixava nas patinhas traseiras e alçava vôo, carregando as duas substâncias de formato de pequeninos pães, “grudados” em suas patinhas traseiras, desaparecendo ligeiramente por entre as árvores...

Lembrei-me do tempo de escola, onde, em Biologia aprendemos sobre o processo de Polinização; que nas plantas, para que a fecundação possa ocorrer, é preciso que o Pólen seja transportado das anteras de uma flor para um estigma de outra flor...e esse processo é feito pelas abelhinhas que visitando as flores em busca do seu alimento – o néctar – tocam nas anteras que contém as tecas (“sacos com grãos de pólen) e acabam “se sujando” do pólen, que é capturado pelos estigmas pegajosos da próxima flor que visitam...

Me veio à mente também, um trecho de um texto, que li há uns tempos atrás, sobre o prazer e o êxtase, de Gibran Khalil Gibran, do livro “O Profeta”, onde ele fala:

“ Ide, pois, aos vossos campos e pomares e, lá, aprendereis que o prazer da abelha é sugar o mel da flor,

Mas que o prazer da flor é entregar o mel à abelha.

Pois, para a abelha, uma flor é uma fonte de vida.

E para a flor, uma abelha é uma mensageira de amor.

E para ambas, a abelha e a flor, dar e receber o prazer é uma necessidade e um êxtase...”

Àquela altura, observando esse quadro, lembrando das aulas de Biologia (...do tempo de escola...) e refletindo: que lição a natureza estava querendo me dar com aquilo tudo!... a emoção foi inefável... e assim, mais uma vez, erguendo o pensamento aos Céus, agradeci à Mãe Natureza por aquela dádiva, por aquele poema do Criador, que está esparramado à nossa volta e muitas vezes não percebemos...

Doni Leite

19/08/2004