UMA VIDA
Dias atrás me encontrava numa estação de grande movimento e, após ter feito um breve lanche, senti necessidade de escovar os dentes, hábito adquirido após passar por maus bocados com o tratamento dentário que fui obrigado a fazer antes que meus dentes simplesmente ficassem imprestáveis.
Dirigi-me aos sanitários e, na porta, havia uma tabuleta com os preços e a indefectível observação: “Idosos acima de 60 anos não pagam”. Isso ocorreu poucos dias antes de completar meus sessenta anos de vida. A sensação foi estranha, pois, pela primeira vez, senti-me um sexagenário.
Sexagenário. Essa palavra horrível que não combina com a disposição e com o prazer que ainda se possa ter pelo viver. Pois é, isso significa seis décadas, ou 60 anos, ou 720 meses, ou 21 900 dias ou, ainda, 525 600 horas (desnecessário entrar no detalhe dos minutos).
Como num piscar de olhos, todos aqueles ideais de vida, planejamentos a médio e longo prazo, pensamentos de como seria atingir uma determinada idade, que nos parecia muito distante, estão na nossa frente.
O interessante é que, mesmo sendo, agora, pais e avós, tal situação não nos exime daquela necessidade de continuarmos sendo filhos, mesmo não tendo mais nossos pais por aqui. Continuamos sim, precisando do afago na cabeça e daquele colo tão amigo e acolhedor, apesar de toda a experiência adquirida.
Seis décadas é tempo mais do que suficiente para acumularmos muitas perdas, mas também muitas conquistas. O amargo e o doce caminhando juntos. Tempo também para entendermos muitas coisas que antes nos pareciam nebulosas demais. Tempo para termos a certeza de que o orgulho não nos leva a nada e que muito perdemos por causa dele. Uma experiência adquirida para sentirmos o aumento da força dos sentimentos e que os amigos são um tesouro incalculável. Entendermos o que quis dizer Frei Beto com a frase “um dos segredos do bem viver é não dar importância ao que não tem a menor importância”. Olharmos apenas para o essencial deixando de lado os periféricos e os acessórios.
A sensação de que nossa mente ainda é jovem, mas o corpo não acompanha chega a incomodar, mas, ao mesmo tempo, estamos no tempo de aproveitar o que a vida ainda nos oferece, como a chama que pode durar pouco, mas que mantém intenso calor pelo que nos traz à lembrança e nos acrescenta.
É como se recebêssemos uma brisa de gratidão pelo simples fato de existirmos e de termos formado um patrimônio do bem, que poderá ser útil a quem está chegando.
Ao adentrar na década sexagenária tenho a certeza de que grande parte das minhas boas realizações e do afloramento de qualidades que nem sabia ter (como a escrita, por exemplo), surgiram nos tempos mais recentes, fazendo assim com que a minha estréia nessa nova década se faça sem traumas e com uma perspectiva de vida extremamente positiva.
******
Dias atrás me encontrava numa estação de grande movimento e, após ter feito um breve lanche, senti necessidade de escovar os dentes, hábito adquirido após passar por maus bocados com o tratamento dentário que fui obrigado a fazer antes que meus dentes simplesmente ficassem imprestáveis.
Dirigi-me aos sanitários e, na porta, havia uma tabuleta com os preços e a indefectível observação: “Idosos acima de 60 anos não pagam”. Isso ocorreu poucos dias antes de completar meus sessenta anos de vida. A sensação foi estranha, pois, pela primeira vez, senti-me um sexagenário.
Sexagenário. Essa palavra horrível que não combina com a disposição e com o prazer que ainda se possa ter pelo viver. Pois é, isso significa seis décadas, ou 60 anos, ou 720 meses, ou 21 900 dias ou, ainda, 525 600 horas (desnecessário entrar no detalhe dos minutos).
Como num piscar de olhos, todos aqueles ideais de vida, planejamentos a médio e longo prazo, pensamentos de como seria atingir uma determinada idade, que nos parecia muito distante, estão na nossa frente.
O interessante é que, mesmo sendo, agora, pais e avós, tal situação não nos exime daquela necessidade de continuarmos sendo filhos, mesmo não tendo mais nossos pais por aqui. Continuamos sim, precisando do afago na cabeça e daquele colo tão amigo e acolhedor, apesar de toda a experiência adquirida.
Seis décadas é tempo mais do que suficiente para acumularmos muitas perdas, mas também muitas conquistas. O amargo e o doce caminhando juntos. Tempo também para entendermos muitas coisas que antes nos pareciam nebulosas demais. Tempo para termos a certeza de que o orgulho não nos leva a nada e que muito perdemos por causa dele. Uma experiência adquirida para sentirmos o aumento da força dos sentimentos e que os amigos são um tesouro incalculável. Entendermos o que quis dizer Frei Beto com a frase “um dos segredos do bem viver é não dar importância ao que não tem a menor importância”. Olharmos apenas para o essencial deixando de lado os periféricos e os acessórios.
A sensação de que nossa mente ainda é jovem, mas o corpo não acompanha chega a incomodar, mas, ao mesmo tempo, estamos no tempo de aproveitar o que a vida ainda nos oferece, como a chama que pode durar pouco, mas que mantém intenso calor pelo que nos traz à lembrança e nos acrescenta.
É como se recebêssemos uma brisa de gratidão pelo simples fato de existirmos e de termos formado um patrimônio do bem, que poderá ser útil a quem está chegando.
Ao adentrar na década sexagenária tenho a certeza de que grande parte das minhas boas realizações e do afloramento de qualidades que nem sabia ter (como a escrita, por exemplo), surgiram nos tempos mais recentes, fazendo assim com que a minha estréia nessa nova década se faça sem traumas e com uma perspectiva de vida extremamente positiva.
******