O cantor da solidão
Existem cantores das multidões, mas nunca alguém foi conhecido como cantor da solidão. Aliás, ele nunca se denominou com esse nome, o cronista que o escreve o denominou assim, pelo fato que esse apresentava na platéia de seus shows, cheia sim, mas de ar, de vento, cimento armado, cadeiras vagas etc. No palco? O interprete do isolamento e sua banda que mais parecia uma fanfarra de circo do agreste, não sabemos até hoje o por que de se apresentarem sempre num espaço deserto de público.
Para o leitor não pensar que não compareciam viventes, estavam sempre presentes a sua assessora de imprensa e o cronista que escreve, diga-se de passagem, assessoramos o cantor sem receber um centavo se quer. A mãe, os primos da assessora, a mulher e os filhos do cantor clausura.
Então, conta-se nos dedos os números de espectadores nos eventos. Por mais que divulgasse na mídia, por mais que estratégias de vendas fossem desenvolvidas, por mais que usássemos a nossa inteligência em busca de patrocínios, os shows jamais tiveram um público de fraco para médio.
O único espetáculo que tivemos cujo salão ficou, podemos dizer 25% de sua capacidade lotado, foi na sombra de um aniversário, que os convidados chegaram duas horas após o início do show, o que nós fez retardar a apresentação. Se assim não fosse, ele, o cantor da penúria se apresentaria para mesas e cadeiras vazias.
Tudo indica que o sucesso do cantor do exílio é fazer nome no deserto. O mais difícil ele conseguia realizar, era reunir ninguém, quando na realidade se trabalhou exaustivamente para justamente acontecer o contrário.
Se cantar para meia dúzia de pessoas e viajar na sombra de festas alheias fossem sinônimos de gordo sucesso, o nosso artista da Ilha (ele sozinho cercado de nada por todos os lados) seria o interprete de maior lotação de todos os tempos (lotação, entenda-se, deserto de público), então podíamos dizer que esse era o cantor das “multidões”, estaria rico, com uma produtora de fazer inveja, vivendo na sombra da árvore.
Mas na verdade, os fatos são outros. Ele é carente de admiradores, hoje canta em uma igreja evangélica, os seus shows de retiro pararam. A esposa que era a sua produtora com um leque de desconhecimento de fazer inveja a qualquer ignorante, parece que agora caiu na real.
Contando, parece um conto leitores, o melhor caminho para o cantor que tem a maior platéia ausente do mundo a fazer é procurar o que fazer, quer dizer, fazer em outra freguesia, porque talento de artista foge dele, assim como o público admirador nos teatros e lonas da cidade.