Ó ESTÚPIDA EU SOU A TUA CONSCIÊNCIA, ME OUVE!
 
 
 
 

Que droga! Eu que gostava tanto de ouvir “Irene ri/Irene ri/ Irene ri” do mano Caetano, agora tô na base do “que faço da vida sem você”. Vai lá, me chama de sentimentaloide! Ora bolas pra quem falo isso? Estou aqui só, plantada no meio da sala de casa e nem sei ao menos como cá cheguei, só sei que a batida da porta que dei ainda está doendo nos meus ouvidos. E por que estou caminhando num vai-e-vem alucinado pela sala? Por que sento e levanto, ando, torno a sentar, cruzo as pernas, descruzo? Se não fumo por que acendo um cigarro? Se não bebo conhaque, por que entorno goela adentro uma dose generosa do dito? Só para Tossir  com a fumaça do cigarro e me engasgar com o conhaque? A cabeça começa a rodar, as pernas fraquejam, procuro onde me apoiar e caio pesadamente sobre o sofá. 
 
- Hei estúpida, para! Já falaste isto uma vez! Ta apelando para o remake, é? Mas continua, vai no embalo, só quero vê no que vai dá. - Deixa comigo... Prosseguindo: luz, câmara, ação! Fixo os olhos no aparelho de TV, busco o controle remoto, mas não a ligo. Começo a contar os botões do controle um, dois, três... São tantos e eu não sei para que serve nem a metade. Desisto da TV e começo a contar os dedos do pé esquerdo um, dois, três, quatro cinco, depois do pé direito. Conto mais uma vez, duas, três, quatro, cinco. Vinte vezes. Ao meu alcance o telefone, sua cor é azul escuro. Difícil ele tocar, e quando o faz quase sempre é por engano. Quisera ouvir agora um bolero na voz de Altemar Dutra. Ainda se compõe bolero? Altemar Dutra morreu faz tempo. Se não me engano aqui em casa tem um bastão de beisebol ... e se eu pedisse a minha ajudante de ordem para acertar com ele, de leve, a minha cabeça...?  
 
- Ô estúpida! Eu sou a tua consciência, me ouve  e me responde: por que estás ai se descabelando? Não foi por conta de um bruto fora que levaste daquele que supunha ser o grande amor de tua vida e sem estrutura emocional para agüentar o tranco está preferindo provocar uma amnésia e sair por ai na base do quem eu sou? Donde estou? Pra donde vou? Ah, pobre diabo, se convence logo de uma vez por todas que o teu amor é de outono, amor que chegou tarde, além do mais este mundo, este tempo, esta gente, estas idéias preconcebidas marginalizaram o sentimento amor. Hoje ele se choca com a dura realidade da vida. Com tristeza te digo: tornaram-se piegas as histórias de amor. E sabe do que mais, não enche! Vai cuidar desta tua ressaca, por que não passas mesmo é de um pobre diabo tão bonzinho que dá dó.
 
Será...?
Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 21/10/2009
Reeditado em 21/10/2009
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