QUE LOUCURA?
[ A Zuza, um louco mendigo macauense ]
“A psicologia nunca poderá dizer a verdade sobre a loucura, pois é a loucura que detém a verdade da psicologia”
(Michel Foucault)
Lembro-me quando menino, aos seis anos de idade, ao chegar ao interior do Rio Grande do Norte numa cidade chamada Macau... lembro-me de minha cidade sem saneamento básico, muita muriçoca e muito lamaçal. Hoje aos vinte e seis anos, a cidade não tem mais o lamaçal nem a peste de muriçocas, mas é reduto de bandidos onde rola assaltos e corrupção de dia e de noite.
Lembro que desde que estou lá, passou mais ou menos uns seis ou sete prefeitos, é que tiveram alguns interinos, devido briga na justiça eleitoral... teve uns trinta ou quarenta grandes empresários, mas o cidadão que mais me impressiona dessa cidade é um cara chamado Zuza – louco, mendigo e totalmente na dele -, não foi prefeito, nem é eleitor, empresário, nem consumidor, vive jogado em baixo do abandonado prédio do INSS, com roupas sujas e sempre com uma pituba de cigarro na boca, acesa ou apagada.
O que impressiona é que sua loucura faz dele um cara mais feliz que qualquer prefeito e empresário do mundo... nós poluímos, passamos por cima dos outros por causa do emprego mais babaca que existe, matamos por conta de nosso ego, por causa de política, amores e traições, mesmo assim achamos que somos FODA e que somos os caras mais normais e espertos que existe.
A frase mais idiota do mundo é: “O MUNDO É DOS MAIS ESPERTOS”. O mundo é dos loucos mendigos que para serem felizes não precisam de lar, cama, restaurante ou festas para gozar e sorrirem. Eles zombam de sua cara porque sua sensatez faz com que você mergulhe num rio que o faz morrer afogado.
Aposto: alguém já viu ou ouviu falar num louco corrupto, ladrão, homicida ou suicida para satisfazer suas vontades ou só por querer trapacear os outros? E agora, o que é a loucura?
Quando um maluco comete crimes é pra se aproximar do juízo da realidade da lucidez daqueles que se julgam inteligentes. E difererente dos sensatos, pois quando um maluco comete crime não é por maldade, mas sim por não saber o que é o bem ou o mal. Bem diferente do Lalau.
Só os sensatos são infelizes, pois só a sensatez é capaz de fazer a gente destinguir o que é felicidade ou não.
É estranho. A sensatez é a mais louca das falhas humanas. Um louco nunca mata, rouba, corre, cai, levanta, suja ou geme sabendo que o que faz é pra alimentar seu desejo ou respeitar seu ego. A razão é o único cérebro insano. Imagine se de cada mil homens um fosse sensato e o resto, loucos! Eu teria a prova que de fato a humanidade encontraria a felicidade. Embora houvesse imundície, fome, caos e insônia, tudo seria acidente, não haveria jamais o pecado. O pecado é uma obra da sanidade dos homens e da loucura dos deuses. O hospício é uma jaula purificada. Imagine se as cidades fossem governadas e vividas por loucos e o manicômio fosse a morada dos sensatos!... Eles enlouqueceriam.
Então porque os loucos presos em manicômios não voltam à saúde mental? Eles são doidos, por acaso? Você acha que eles vão querer ganhar a cura do corpo em troca da doença mental? Eles estão loucos, não idiotas!
A sensatez é o estupro da paz; A loucura, a paz gozando... Sem falar que a loucura é também um detergente mental... a única doença que sobrevive melhor sem remédios!
Uma série de “doidos” assim disse:
“a única diferença entre a loucura e a saúde mental é que a primeira é muito mais comum”.
( Millor Fernandes)
“A loucura é uma ilha perdida no oceano da razão”
(Machado de Assis)
“A arte de ser louco é jamais cometer a loucura de ser um sujeito normal”
(Raul Seixas)
“Se o doido persistisse na sua loucura tornar-se-ia sensato”
(Willian Blake)
“Breve é a loucura, longo o arrependimento”
(Friedrich Schiller)
Claro que não poderia faltar ele, Henrique Diógenis, poeta potiguar:
“A loucura é só uma forma de provar que os homens não precisam de nada além do riso e da paz”
O engraçado é que depois deste texto vão decretar meu estado de loucura. É ou não é meio bizarra essa tal de sensatez?