Cafe Volúvel

Creio que você já tenha vivenciado o exemplo de pessoa que deitou críticas contra aquele com quem formara um par, para depois ser noticiado de que ela está novamente com o alvo de tantas reclamações. Daí, a gente se surpreende e cai em certa perplexidade. Os motivos da contradição podem ser tantos, não é o caso de refletir a respeito, fiquemos com o macro que é a contradição.

Certa vez, uma mulher me perguntou se eu era volúvel no amor. Busquei portas para a resposta e escolhi a que me abriu. O fato é que, assim como você, humano que sou, as circunstâncias ditam minhas atitudes. De maneira que, a velocidade dos fatos me fizera noticiar mudanças amorosas que deixaram algumas conhecidas um tanto atônitas.

Em se tratando de amor, faz parte da nossa caminhada passar por períodos errantes. E assim eu segui caminhando até que deixei de apostar em cada relacionamento. Não que optei, senão aprendi. Pois vi nos fatos sua independência, de modo que deixei de esperar o que fosse. Apenas passei a viver o momento, caminhando com seu desdobrar, sem nada esperar. Foi-se o tempo em que tudo era para sempre. Deixei o jogo, não aposto mais. A vida segue como ela quer. E eu não sou nada mais que simples personagem dela. De maneira que, meu olhar para a minha história se torna mais belo e filosófico.

Um dos temas aqui apresentado é a contradição humana. Quando menino, aprendi que isto era grave crime sem perdão. Até que alguém me disse que por sermos humanos, a contradição não é crime, senão uma espécie de direito dado por nossa condição. Assim, fiz nova troca de Café. O problema é que voltei para aquele que eu criticara em outro texto. Mais grave é que deixo um Café que tanto elogiei por outro que, em verdade, desgosto bastante. Isto me faz igualmente contraditório àquele que voltou para os braços de alguém por quem guarda tantas mágoas. De qualquer forma, este meu retorno é tão fugaz quanto o tempo de agora. Pois de tão ruim o estabelecimento para o qual retornei, terei de buscar outro Café. E, em verdade, tal busca já se iniciou, pois há muitas opções, felizmente.

É possível que o leitor menos distraído se pergunte por que eu declinei de um local que tanto gostava para voltar a outro que ainda desgosto. Mas certo é que não darei resposta alguma, sem dar explicação que seja, talvez para ilustrar que certos fatos fogem ao alcance da análise, ou que talvez necessitem de tempo para a busca de conclusões mais precisas. Nesta espécie de auto-análise não serei precipitado em dar explicações. Se assim o fizesse, eu seria como aqueles profissionais da alma, cujo objetivo maior é tecer o comentário, no intuito de demonstrar competência, sendo que o paciente fica em último plano. É o palco da encenação não apenas do ego do terapeuta, bem como a expressão de suas fragilidades. Se a soma dessas palavras carrega a dura feição das críticas, no fim é sabido que aquele que te ouve é alguém que apenas veste a roupagem do papel que lhe cabe. E, claro, seria desonesto sonegar a informação de que muitos são altamente competentes. O problema é que lidam com algo bastante complexo. Assim, se qualquer destes profissionais abraçar o plano da absoluta certeza em algumas de suas avaliações, estará mergulhado em grave equívoco.

Façamos pequena observação. Algumas pessoas se acostumam e não trocam seus pontos de consumo. Não é o caso deste que escreve. Neste sentido, sou deveras volúvel. De modo que, se deixar elogios para seu estabelecimento e amanhã não aparecer mais, não estranhe. Pode ser que este seja modo meu de expressar meu gosto pela liberdade, esta que não existe de fato. Assim, pelos cantos do mundo, vou seguir em busca de locais que me agradem. Onde eu possa optar em sentar ou não. Fazer o pedido escolhido. Quem sabe, gostar do resultado. Com a chance de admirar o atendimento, cuja qualidade se dará muito em função do modo como me comunicar. E com a absoluta incerteza de que voltarei.