Eu quero a minha mãããe!!!

Nos tempos de universidade, era super comum que tivéssemos que virar noites e mais noites nos finais de semestre, pra dar conta de tantos trabalhos e provas. E costumávamos fazer isso no próprio ateliê da arquitetura, onde um colega dava força pro outro, até porque a companhia servia como estímulo pra que permanecêssemos acordados e atentos.

Mas quando estávamos lá pela terceira ou quarta noite virada, o cansaço acumulado e o estresse da pressão dos prazos eram de desesperar!

Numa dessas ocasiões, quando deu umas três horas da madrugada, estiquei bem as costas, levantei os braços com os punhos fechados e soltei um grito meio choroso:

-- Eu quero a minha mããããe!!!

Feito o desabafo, me curvei de novo sobre a prancheta e continuei na dura lida por mais alguns minutos. Mas, como logo-logo as costas voltaram a doer, os olhos a turvar, o cérebro a derreter e as mãos a travar, repeti o gesto e o grito, talvez com uma notinha de desespero a mais. Tanto que os colegas comentaram, aqui e ali, que também queriam a mãe deles, que queriam dormir por uma semana seguida, que queriam jogar tudo pro alto e virar hippie vendedor de artê e por aí foram...

Foi então que vimos, com muita surpresa, encanto e alívio, minha querida mãezinha adentrar o ateliê carregando uma imeeensa bandeja com duas enormes garrafas térmicas de café e uma montanha de sanduíches!

Oba! Recreio! "É hora do lanche, que hora tão feliz!"

Não houve quem não tivesse aproveitado a pausa, a mordomia e não se sentisse profundamente grato à minha velhotinha que, naquele momento, era mãe de todos, não só desta magrela que vos escreve. A providencial injeção de combustível e carinho nos fez suportar melhor o resto da madrugada e os trabalhos se desenvolveram com muito mais facilidade.

No semestre seguinte, como em todos os outros passados e futuros, continuaram as noites viradas, o cansaço acumulado e o estresse enlouquecedor. E aí começaram as gracinhas:

-- Iaci, chama a sua mãe!!!

Que eu invariavelmente retrucava:

-- Eu não! Chama a sua, agora é a vez dela...

Maria Iaci
Enviado por Maria Iaci em 20/10/2009
Reeditado em 20/10/2009
Código do texto: T1876808
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