A Vez e a Hora de Augusta Laura

O telefonema veio de manhã. Embora não querendo e soubesse que estava para acontecer, quando acontece, tudo escurece. A dor profunda no peito, o nó na garganta. Lágrimas que afloram e escorrem. A voz emudece. Na minha mente, só aquele sorriso, agora perene.

Ah! Como ela era agitada! Alegre, dinâmica, sempre indo e vindo. Do cinema ou do mercado, da padaria ou da faculdade. De Ubatuba ou do centro da cidade. Da maternidade, vibrando por um neto. De ônibus ou dirigindo o carro, jamais de táxi. Tinha rodinha nos pés, dizia papai.

Ali deitada, seus lábios pareciam sorrir. Debaixo das pálpebras cerradas eu sabia que seus olhos miravam, através da janela, as mangueiras que ela tanto gostava, que seu pai havia plantado, como não se cansava de contar. Naquela casa nasceu e foi lá que cresceu vendo as lidas da terra, do arrozal ao cafezal.

Diante dela, absortos em pensamentos, os filhos sofriam. Pela cabeça de cada um, tenho certeza, passavam em rápidos flashes momentos de sua vida. De alegria ou tristeza, de ternura e carinho ou de broncas e braveza, na ânsia de corrigir nossas incertezas, indicando o caminho reto a seguir.

Ela gostava de ler, estudar, lecionar, passear e conversar. Adorava o mar. Como se sentia feliz com os pés na areia fofa! Dava gosto de ver. Não se cansava ao preparar a imensa bagagem das férias, do arroz e feijão às toalhas e lençóis. O orgulho da casa construída à revelia de papai. A planta por ela desenhada, tijolo por tijolo escolhido e tudo o mais. Para nossa imensa diversão e satisfação.

Ela dizia que ao final do dia, vovó reunia a família na salinha de entrada, e ali desfiavam o rosário que ela, criança, acompanhava sem muita compreensão. Agora, nessa tarde ensolarada, lá estávamos nós, filhos, netos, amigos e parentes naquela mesma sala. Rezando também, para que sua alma descansasse. E em paz ao céu chegasse.