“QUANDO EU CRESCER, QUERO CASAR COM VOCÊ !”
Minha primeira reação foi de absoluta perplexidade ! Procurei disfarçar, dei um sorriso amarelo e disse que não tinha entendido bem .
Afinal de contas estávamos numa festinha de aniversário de uma vizinha aqui do condomínio e ela , me olhando fixamente e sem pestanejar repetiu a frase :”Quando eu crescer, quero casar com você !” .
Fiquei pensando com meus botões o que poderia levar a uma menina de doze ( talvez nem isso) anos de idade, tivesse ou não algo de mais sério na cabeça , para dizer isso a um adulto, principalmente sessentão e de cabelos brancos.
A menina me puxou pelo braço e parecendo não se importar com meu atordoamento me afastou de outras pessoas que estavam próximas e me disse que já tinha dito para a mãe sua intenção.
A mãe, mulher separada e que eu só conhecia de dar os bom dia e boa tarde formais, pelo que entendi nada fez para tirar da cabeça oca da filha aquela pretensão incrivelmente sem nexo e amalucada.
Fiquei tão surpreso, tão apatetado que não encontrei uma resposta imediata e, tão logo foi possível, discretamente dei uma desculpa qualquer pra patroa, e fui pra cama. Naquela noite me deitei mais cedo e tive pesadelos.
Passaram-se alguns anos, a tal família mudou-se para bem longe e, só depois da mudança consegui respirar um pouco mais aliviado e com o passar dos dias, fui esquecendo o assunto.
Entretanto, o destino está sempre nos pregando peças e numa dessas tardes em que a gente sai correndo de um compromisso para outro, tropecei exatamente na tal menina. Aliás, foi ela que tropeçou em mim porque eu não a reconheci.
Afinal estava mais preocupado e interessado em outras coisas, mas ela me viu, bateu no meu ombro e quando me virei me saudou com um largo sorriso. Ela estava acompanhada de uma outra menina, ambas com uniforme escolar.
Como disse, a principio não a reconheci e foi ela quem me perguntou se tinha me esquecido da tal promessa. Atônito perguntei qual era a tal promessa, e ela repetiu a mesma frase :...”quando eu crescer, vou me casar com você!” .
Continuei perplexo e absolutamente sem palavras e rindo, ela se afastou sem dizer mais nada e se perdeu na multidão. Aquilo me incomodou. Me tirou do sério e ao entrar no carro nem fiz a mesma coisa que sempre faço, que era ligar o radio em busca das músicas preferidas.
Minha mente estava em sobressalto e o coração batia acelerado. Voltei prá casa refletindo o que pode levar uma adolescente, uma criança que nem sabe e nem faz ideia do que seja a vida enfiar na cabeça essa enorme e absurda tolice.
O que fiz eu para despertar tanto interesse numa jovem que praticamente vi crescer e nunca , jamais, deixei de tratar com uma menina, uma criança ?
Alguns homens talvez se sentissem orgulhosos de serem objetos de desejo de tolas adolescentes mas no meu caso, a reação provocada foi, primeiro de perplexidade e segunda de imensa tristeza.
O que leva uma menina a fazer uma coisa dessas, a se iludir com uma imagem enfim, alimentar a cada dia uma ilusão tão absurda ?/ Realmente, não sei !
Talvez alguém me pergunte porque estou contando este caso. É simples, muito simples.
Talvez para dar um alerta, talvez para incentivar ainda mais a orientação a jovens filhas, talvez para abrir os olhos de certas mães que têm tão pouco tempo para ouvir, entender suas filhas e dar-lhes atenção.
Não é com a alegria habitual que publico esta crônica. Pensei muito antes de fazê-lo, me sinto mal tocando neste assunto, falando dessas coisas.
Estou fazendo com muita tristeza e decepção, mas tive que fazê-lo.....
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(.....imagem google.....)