O PÔR DO SOL QUE EU NÃO VI
 
 

Eu nunca guardei rebanhos,

Mas é como se os guardasse. 
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das estrelas
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um PÔR DE SOL
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
E se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.
(Fernando Pessoa)
 
 


Convite feito, convite aceito e se o pôr do sol está em voga por que não sentir também esse orgasmo visual tão sublimado pelos líricos da terrinha – perguntei-me.

 
E fui eu, fim de tarde , rumo a Capitania das Artes – que bela Capitania! Je vous salue quem a fez! – pois para lá apontavam os menestréis.
 
Preparei-me com esmero para o vis-à-vis com o derreamento do astro-rei. O modelito que vestia poderia ser descrito assim: jape cor vert-de-gris combinando com blazer da mesma tonalidade; blusa da cor noissete. Sapatos de chamois preto. Perfum de toillete: Magriffe – Corven – Paris.
 
Se suspiraram por mim, não me dei conta, mas com certeza o meu perfume ficou no ar.
 
Não sorvi chá nem belisquei canapés
 
O pior é que todo o meu embonecamento não deu em nada; um dos cavalos que puxava a carruagem que me conduzia enfiou uma das patas num mata-burro – coisa comum em nossas alamedas – causando-me transtorno e atraso.
 
Perdi o pôr do sol. Quando avistei o Potengi suas águas poluídas já haviam tragado o astro-rei e já pintava no pedaço a senhora dona lua em toda sua plenitude, deixando sobre as águas um rastro de luz. Sabe o que fiz? Joguei os sapatos para o ar, sentei-me à margem do rio, contei estrelas - sem medo de criar verrugas – e enquanto o céu mudava de tom eu lembrava Ivete Sangalo e Carlinhos Brown cantarolando... Lágrimas não são forever... Dores já não são together... da canção “Quanto ao Tempo” e diz mais... eu já sei como ir além do horizonte e que o passado assim já passou...Ouça, vale a pena...
 
PS:   não me chegou nenhuma garrafa com mensagem dentro, mas joguei pedrinhas na água que formaram círculos e mais círculos, achei engraçado. Fui embora e esqueci os sapatos.
 
 
Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 19/10/2009
Reeditado em 19/10/2009
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