O dinheiro manda?

Cissa de Oliveira

Acompanhei em silêncio, por estes dias, uma discussão a respeito do dinheiro: O dinheiro manda? Questiono: qual é a importância verdadeira que o dinheiro tem, e principalmente que espécie poder é esse que ele exerce ao ponto de unir e de separar pessoas?

O capitalismo pode ser saudável, e o dinheiro, excelente. Lembremos o que diz a música “Amor pra recomeçar”, cantada por Frejat “... eu desejo que você ganhe dinheiro, pois é preciso viver também, e que você diga a ele (o dinheiro), pelo menos uma vez, quem é mesmo o dono de quem...”. E o que significa esse “pois é preciso viver também”? É o viver com, no mínimo, dignidade. Afinal é o dinheiro que possibilita o acesso ao lazer, à boa moradia, alimentação e até certo ponto, qualidade de vida. E mais: embora se diga que ele não compra saúde, sabemos que esta é uma meia verdade. Um bordão que minora o fato de que há tempos existem pessoas morrendo nas filas dos hospitais públicos. E quem é que morre nas filas dos hospitais públicos? É quem tem, ou quem não tem dinheiro?

Sobre o dinheiro, deveríamos nos perguntar, mesmo, é o porquê de havermos chegado ao ponto de valorizá-lo demais. Eu não consigo me lembrar de ter ouvido, nunca, ninguém fazer qualquer referência quanto a perder o sono por uma questão relacionada ao “ser”, mas por uma questão de “ter”, aí sim, eu já me cansei de ouvir.

E quem é que admite gostar exageradamente de dinheiro? É que é feia, como é feia, a feiura! A feiúra de fora é a que mais preocupa e assim, nestes tempos em que deve ser evitada, onde a esconderíamos? Dentro de nós. Mas até mesmo arrotada a feiura é feia, então o negócio é arrotar boniteza, falsa moral, frases feitas, perfeição e bom-caratismo, como diria um típico representante dos que louvam o dinheiro, as falcatruas – tudo em nome do poder -, o emergido da literatura, Odorico Paraguaçu, vejam bem, o nada mais, nada menos que “o bem amado”. Cara de pau à altura ele tinha, e, posto que imortal e poderoso, nem se importava de dar a mão à palmatória.

- O dinheiro manda?

Depende de cada um, mas de maneira geral, sim, embora poucos admitam tal fascínio. Quer ver? Por que é que a indústria a automobilística inventa carros cada vez mais luxuosos e potentes? Por favor, não me faça rir. Não diga que é para perdermos menos tempo na volta pra casa. Os objetos do desejo servem mesmo é para mostrar poder de compra. Uma conhecida minha disse que na cidade onde ela mora as joalherias tiram fotos dos clientes quando estes compram jóias, e mandam colocar no jornal! Isto é o que? Como se não se bastasse, é ainda cafona a ostentação.

Você pode argumentar, dizendo que embora pareça, não é o dinheiro que faz o mundo girar. Claro que não faz, as pessoas é que giram em torno dele. Ele é a luz, o próprio sol, e elas, pequenos insetos, cegos pela luminosidade. Por ele, cometem crimes, matam e morrem.

Então, o dinheiro manda? Manda. E manda porque dá poder. Pode ser ilusório, mas dá. Você pode questionar o que eu disse. Mas eu só disse! Quem inventou as aberrações por causa do dinheiro não fui eu, nem você e nem mesmo a dona Daslu. Afinal, neste país, mas não somente aqui, ladrão que tem dinheiro tem também a possibilidade de ser enxergado sob uma perspectiva mais complacente.

Cissa de Oliveira
Enviado por Cissa de Oliveira em 18/10/2009
Reeditado em 08/12/2009
Código do texto: T1873514