PAGAMENTO DE PROMESSA – PARTE I
Tem uma coisa mais esquisita do que você ter que pagar promessas feitas pelos outros? Não? Pois é, pagar promessa feita pelos outros é, no mínimo, um grande incômodo. Tudo bem que a pessoa que fez a promessa, na maioria das vezes, fez com boas intenções. Mas, o problema é que sempre essas pessoas, ao fazerem a promessa, exageram na forma de pagamento da mesma. Não sei se é por medo de, se fizer uma promessa muito fácil de pagar, o santo não ache graça em atender, ou se é porque acham que a fé que a pessoa tem – aquela para quem elas fizeram a promessa – não seja suficiente ou tenha crédito para, se fizer uma promessinha qualquer, ser contemplada com o mérito da graça alcançada.
Eu só sei que, dependendo da promessa, é preferível, muitas vezes, que ela não seja feita. Quer dizer, pelos outros. Ou seja, por aqueles que são bondosos ao ponto de se preocuparem em rezar para seus santos preferidos e pedir-lhes, em seu nome, a cura das mazelas dos seus conhecidos.
Outro dia, eu estava conversando sobre religião e fé, com alguns colegas de trabalho, quando um deles passou a rir, em gaitada, quase não parando mais. Intrigados, todos nós perguntamos o motivo daquele riso, já que o assunto requeria uma certa sobriedade, pois estávamos falando do sagrado, do Homem lá de cima.
- Desculpe, pessoal, disse ele. É que vocês estão falando em fé, e eu me lembrei de um episódio em que caí acamado de um problema na perna, um certo tipo de erisipela, causada, principalmente, por eu andar de pé no chão, no muro lá de casa e, por ter tido a infelicidade de ter me cortado num dedo, tendo, através disso, infeccionado o local.
Todos nós ficamos sem entender o que ele quis dizer e já íamos iniciar nosso debate quando ele retomou a palavra.
- Aquilo infeccionou demais! Depois de muitas idas e vindas ao médico, pomadas, raspagens, gazes e injeções a gosto, eu finalmente fiquei bom. Porém, para meu espanto, a minha sogra chegou lá em casa e disse que eu só tinha ficado bom porque ela tinha feito uma promessa para Santa Luzia e ela havia me curado.
Ele parou, fez uma cara de quem estava tirando onda, ou querendo aumentar o suspense, esperou o famoso “e daí?”- para poder continuar -, e disse, em gargalhadas:
- O problema é que ela fez a promessa, mas quem tinha que pagar era eu! Até aí tudo bem, continuou. O problema foi a “paga” da promessa. Simplesmente, eu deveria sair de casa, no dia da procissão de Santa Luzia, descalço e com um tijolo na cabeça, andar a procissão todinha e só calçar uma sandália e tirar o tijolo da cabeça, quando pusesse meus pés dentro de casa de novo!
E você pagou? – perguntamos quase ao mesmo tempo, tanta era a nossa curiosidade.
- Claro que paguei, disse. E eu era doido de não pagar? Para começar, a minha mulher foi logo dizendo que promessa que a mãe dela fazia tinha que ser cumprida, pois se eu não cumprisse, a doença terminava vindo para ela. Aí, para evitar ficar em “jejum” conjugal e de mal da mulher que eu amo, dentro da própria casa, eu fiz das tripas coração, paguei mico, mas paguei a promessa feita pela malvada da jararaca da minha sogra. Agora tem uma coisa, continuou, mas que me deu vontade de não pagar, deu. Só para ver se realmente ia acontecer o que a minha esposa disse, e para a “veia” pagar alguns juros que deve a mim.
Maldade, dissemos. Mas, mesmo assim, caímos na risada. Não tínhamos como não rir. Falar mal de sogra é um bom motivo para rir. Entretanto, eu me lembrei que já cumpri uma “paga” desta forma. Sem o tijolo, claro. E a pessoa que fez a promessa para mim? A minha santa mãe.
Agora, é contraditório o pagamento da promessa feita pela sogra do abnegado genro: ora, se ele teve um problema no pé e na perna, justamente por andar descalço, fazê-lo andar uns 10 quilômetros, achatando a palma do pé em detritos, asfalto quente e todo tipo de porcarias pelo caminho, por onde passava a procissão é, no mínimo, imprudente e esdrúxulo.
Mas vai dizer isso à sogra dele. Assim como, vá dizer à minha santa mãe que, segundo os padres (alguns aos quais eu perguntei sobre isso), quem faz a promessa é quem deve pagar! Eu, particularmente, não sou louco, por isso eu pago.
Tem uma coisa mais esquisita do que você ter que pagar promessas feitas pelos outros? Não? Pois é, pagar promessa feita pelos outros é, no mínimo, um grande incômodo. Tudo bem que a pessoa que fez a promessa, na maioria das vezes, fez com boas intenções. Mas, o problema é que sempre essas pessoas, ao fazerem a promessa, exageram na forma de pagamento da mesma. Não sei se é por medo de, se fizer uma promessa muito fácil de pagar, o santo não ache graça em atender, ou se é porque acham que a fé que a pessoa tem – aquela para quem elas fizeram a promessa – não seja suficiente ou tenha crédito para, se fizer uma promessinha qualquer, ser contemplada com o mérito da graça alcançada.
Eu só sei que, dependendo da promessa, é preferível, muitas vezes, que ela não seja feita. Quer dizer, pelos outros. Ou seja, por aqueles que são bondosos ao ponto de se preocuparem em rezar para seus santos preferidos e pedir-lhes, em seu nome, a cura das mazelas dos seus conhecidos.
Outro dia, eu estava conversando sobre religião e fé, com alguns colegas de trabalho, quando um deles passou a rir, em gaitada, quase não parando mais. Intrigados, todos nós perguntamos o motivo daquele riso, já que o assunto requeria uma certa sobriedade, pois estávamos falando do sagrado, do Homem lá de cima.
- Desculpe, pessoal, disse ele. É que vocês estão falando em fé, e eu me lembrei de um episódio em que caí acamado de um problema na perna, um certo tipo de erisipela, causada, principalmente, por eu andar de pé no chão, no muro lá de casa e, por ter tido a infelicidade de ter me cortado num dedo, tendo, através disso, infeccionado o local.
Todos nós ficamos sem entender o que ele quis dizer e já íamos iniciar nosso debate quando ele retomou a palavra.
- Aquilo infeccionou demais! Depois de muitas idas e vindas ao médico, pomadas, raspagens, gazes e injeções a gosto, eu finalmente fiquei bom. Porém, para meu espanto, a minha sogra chegou lá em casa e disse que eu só tinha ficado bom porque ela tinha feito uma promessa para Santa Luzia e ela havia me curado.
Ele parou, fez uma cara de quem estava tirando onda, ou querendo aumentar o suspense, esperou o famoso “e daí?”- para poder continuar -, e disse, em gargalhadas:
- O problema é que ela fez a promessa, mas quem tinha que pagar era eu! Até aí tudo bem, continuou. O problema foi a “paga” da promessa. Simplesmente, eu deveria sair de casa, no dia da procissão de Santa Luzia, descalço e com um tijolo na cabeça, andar a procissão todinha e só calçar uma sandália e tirar o tijolo da cabeça, quando pusesse meus pés dentro de casa de novo!
E você pagou? – perguntamos quase ao mesmo tempo, tanta era a nossa curiosidade.
- Claro que paguei, disse. E eu era doido de não pagar? Para começar, a minha mulher foi logo dizendo que promessa que a mãe dela fazia tinha que ser cumprida, pois se eu não cumprisse, a doença terminava vindo para ela. Aí, para evitar ficar em “jejum” conjugal e de mal da mulher que eu amo, dentro da própria casa, eu fiz das tripas coração, paguei mico, mas paguei a promessa feita pela malvada da jararaca da minha sogra. Agora tem uma coisa, continuou, mas que me deu vontade de não pagar, deu. Só para ver se realmente ia acontecer o que a minha esposa disse, e para a “veia” pagar alguns juros que deve a mim.
Maldade, dissemos. Mas, mesmo assim, caímos na risada. Não tínhamos como não rir. Falar mal de sogra é um bom motivo para rir. Entretanto, eu me lembrei que já cumpri uma “paga” desta forma. Sem o tijolo, claro. E a pessoa que fez a promessa para mim? A minha santa mãe.
Agora, é contraditório o pagamento da promessa feita pela sogra do abnegado genro: ora, se ele teve um problema no pé e na perna, justamente por andar descalço, fazê-lo andar uns 10 quilômetros, achatando a palma do pé em detritos, asfalto quente e todo tipo de porcarias pelo caminho, por onde passava a procissão é, no mínimo, imprudente e esdrúxulo.
Mas vai dizer isso à sogra dele. Assim como, vá dizer à minha santa mãe que, segundo os padres (alguns aos quais eu perguntei sobre isso), quem faz a promessa é quem deve pagar! Eu, particularmente, não sou louco, por isso eu pago.
Obs. Imagem da internet