O PEQUENO JORNALEIRO
Meio dia duma sexta-feira ensolarada, o ônibus subia a Rua Manoel Macedo, na Lagoinha, quando, num ponto próximo ao Conjunto IAPI, subiu um garoto dos seus doze anos, magrinho, de boné e colete pretos, onde se via em letras amarelas escritas, nas costas, “HOJE EM DIA”, e gritou bem alto:-
“- Bom dia! Estou aqui para fazer um trabalho honesto, oferecendo o jornal HOJE, que custa apenas Cr$15,00. Aceito também colaborações de Cr$1,00. As manchetes de hoje são:- “ELISEU APOSTA NA QUEDA DA INFLAÇÃO”, “GALO TESTA FUTEBOL JAPONÊS”, “POLICIA PRENDE MATADOR DE PM” !...
A seguir, o pequeno jornaleiro embarafustou pelo corredor do ônibus, enfrentando os olhares sorridentes dos passageiros, foi até ao fundo e voltou, colhendo os louros da sua empreitada. Vendeu alguns jornais e ainda ganhou uns bons trocados, pois a sua atitude corajosa conquistou a simpatia do pessoal sofrido e apertado no ônibus, àquela hora, em busca do almoço frugal em suas casas.
De volta à parte dianteira do coletivo, o garoto parou ao lado do motorista, fez sinal para descer. Quando o carro parou, ele voltou-se novamente para os passageiros, sorriu e disse alto e bom som:-
“- Muito obrigado e tenham todos um bom dia! ...”
A cena foi rápida, mas serviu de refrigério no cotidiano daquelas pessoas comprimidas no ônibus, cada qual com seu drama particular, seus problemas, suas incertezas.
A mim o garoto passou a imagem positiva do bravo trabalhador brasileiro, especialmente a dele, um menor, bem diferente dos pivetes que infestam a nossa cidade, deixando-me uma grande certeza:- ele será um baita vendedor no futuro! Quem viver verá.
-o-o-o-o-o-
B.Hte., 30/04/93