UM PEDAÇO DA MINHA VIDA. - Dia dos namorados

Entrei na classe, cumprimentei meus alunos, fiz a chamada. Após isso uma menina, gritou do fundo da sala: ”professora, não dá aula hoje, é Dia dos Namorados, conte sobre seus namorados.”

“Tudo bem, disse lhes. Vou contar-lhes como conheci três namorados.”

Minha professora de Geografia pediu-nos para fazer uma pesquisa e disse que deveríamos ir à biblioteca Mário de Andrade, pois além de pesquisar, poderíamos também arrumar um namorado, pois seu marido, ela o conheceu na biblioteca.

Fui fazer a pesquisa e tive dificuldade para encontrar o livro. Pedi a um mocinho, que lá estava para me ajudar. Ele levou-me até uma gaveta onde estavam as fichas com os autores dos livros, disse-me que eu deveria copiar o nº que tinha na parte superior da ficha do livro e entregá-la ao funcionário da sala de leitura.

Fiz a pesquisa e continuei a freqüentar a biblioteca cada vez que precisava.

Um dia fui à biblioteca circulante procurar um livro sobre Victor Hugo. Novamente um mocinho ajudou-me encontrar a ficha e quando fomos à estante em que estavam os livros sobre o autor, e não sei o porquê, abrimos um livro qualquer e na página estava um lindo poema de amor. Lemos juntos o poema. “Que liindo!” falamos ao mesmo tempo.

Ao sair da biblioteca, dirigi-me até o ponto de ônibus e ele me acompanhou, ficou no ponto conversando comigo até chegar o ônibus e disse-me que gostaria de me ver outro dia qualquer.

Marcamos um encontro em frente à igreja da Nossa Senhora da Saúde, na Vila Mariana. Porém aconteceu-me um imprevisto e não consegui ir ao encontro.

A terceira vez que fui à biblioteca estudar, fiquei conhecendo um estudante de Direito que estudava na PUC. Ele convidou-me para ir ao cinema.

Um dia fomos ao cinema. Dentro do cinema, ele colocou a mão no meu ombro e a tirei e disse que ele só poderia pegar na minha mão. Aí uma aluna disse-me: “o que tem por a mão no ombro, não é nada demais.” Hoje não é, disse-lhe. Mas naquela época, o namoro era diferente do de hoje . Um dia ele poderia colocar as mãos nos meus ombros, mas não no começo do namoro. Eu disse aos meus alunos, que o dia que eu encontrasse alguém que me quisesse sem me tocar por algum temp me casaria com ele se ele tivesse as qualidades que acho importantes: honestidade, sem vícios, trabalhador, e da mesma moral e religião minha.

Um dia aconteceu-me conhecer um rapaz que preenchia todos os requisitos necessários para ser meu marido.

Conheci-o na biblioteca do SESI que ficava na Rua Asdrúbal do Nascimento.

Ele estava olhando para mim na biblioteca e eu também olhava para ele porque ele estava com uma apostila igual a minha. Quando a biblioteca ia fechar, ele veio conversar comigo e falamos sobre o exame de vestibular na FUVEST. Ele me contou que ele também ia prestar vestibular na FUVEST para o curso de letras. Ele foi comigo até o ponto de ônibus conversando. Durante uma semana que estudei na biblioteca, ele me acompanhou até o ponto de ônibus sem me tocar. Então pensei. “Este rapaz já passou no primeiro teste.”

No último dia que estudei na biblioteca eu lhe disse que eu iria estudar no cursinho. Só estudei lá, porque estávamos mudando de cursinho, e meu colega disse que duraria uma semana para encontrar um novo cursinho para estudarmos, pois nosso cursinho tinha ido à falência.

Devido essa mudança, ele passou a me encontrar na saída do cursinho e me levava até o ponto de ônibus.

Fizemos o vestibular no fim do ano e entrei em línguas neolatinas. Naquele tempo nós podíamos estudar três línguas. Estudei Francês, Italiano e Português.

Namoramos durante três anos e nos casamos.

Após escutar atentamente minha história, fui aplaudida pela classe.

Essa história aconteceu na realidade.