Fragmento do Cotidiano

O dia hoje está bonito!

No céu azul o sol, escancarado, presenteia a manhã com um ar alegremente sadio e promissor.

Deixo meu coração pulsar desordenado, estimulado pelo convite irresistível da natureza, que a cada instante acena para mim da janela de meu escritório, desviando minha atenção de textos e idéias formatadas.

Quase perversamente, permito que minha atenção escape por esta brecha indo ao encontro dos sentimentos que a distrai.

Deixo-me vagar por entre idéias e imagens deste mundo subjetivo que me cerca...

Mundo fascinante, encantador, desconhecido! Tão instigante que provoca o desejo ardente de explorá-lo.

Por uns minutos, horas, dias, séculos talvez, nem sei, saboreio o imponderável, toco o improvável e experimento o impensável!

Ah! Fascina-me o poder da criação, o existir inexorável.

Minha alma deixa-se esparramar sem resistência fragmentando-se ate sentir-se parte inseparável do cosmos... Flutua entre o real e o imaginário, e neste cenário deixa-se fluir.

A desconstrução dos limites que me prendem à personalidade é uma atividade surpreendente. Permite que cada emoção, sentimento ou imagem contida no espaço delimitado do meu ser, se dilua, na imensidão do infinito.

Impressionante assistir-me navegando por um oceano azul de proporções impensáveis! Como se um vão da temporalidade acolhesse minha alma e a conduzisse pela eternidade.

Aos poucos retorno a atenção para o trabalho, preciso produzir... Conservo ainda a lembrança suave do existir sem limite, que bem sei me fará companhia ao longo deste dia.

Capital e trabalho, fome e pão, desejo e possibilidade, esperança e vida!

Retorno a esta dimensão assumindo minhas fronteiras. Ah! A sensação desconfortável me impõe a consciência do tempo e do espaço.

Experimento então, de modo agudo, uma terrível solidão que me faz desejar um longo abraço, que possa abrigar meus sentimentos, que acolha cada um dos meus receios e acalme o meu coração.

Olho os textos, laudas em branco, apostilas e livros abertos... Tudo incerto, tudo por finalizar.

Meus dedos correm pelo teclado, registrando frações de idéias que penso ter compreendido. Há tanto o que aprender, tanto a se perceber.

Intuitivamente vou mergulhando pelos abismos do vir a ser, deixando-me guiar pela imaginação, energia que principia quando nos dedicamos a criar, brincando de viver.

Neste momento, o som de telefone me distrai novamente do trabalho. Por segundos olho para o aparelho como se fosse algum alienígena que tivesse entrado em meu escritório pela janela, enquanto estava a perambular pelo espaço...

Trim... Trim... Trim...

Atendo. Do outro lado uma voz me informa: Seu numero de telefone foi sorteado. Você acaba de ganhar um curso de informática!

Priscila de Loureiro Coelho

Consultora de Desenvolvimento de Pessoas

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Priscila de Loureiro Coelho
Enviado por Priscila de Loureiro Coelho em 21/05/2005
Código do texto: T18712